quarta-feira, 5 de maio de 2010

Czeslaw Milosz



Conversation with Jeanne 


Let us not talk philosophy, drop it, Jeanne.
So many words, so much paper, who can stand it.
I told you the truth about my distancing myself.
I've stopped worrying about my misshapen life.
It was no better and no worse than the usual human tragedies.
For over thirty years we have been waging our dispute
As we do now, on the island under the skies of the tropics.
We flee a downpour, in an instant the bright sun again,
And I grow dumb, dazzled by the emerald essence of the leaves.
We submerge in foam at the line of the surf,
We swim far, to where the horizon is a tangle of banana bush,
With little windmills of palms.
And I am under accusation: That I am not up to my oeuvre,
That I do not demand enough from myself,
As I could have learned from Karl Jaspers,
That my scorn for the opinions of this age grows slack.
I roll on a wave and look at white clouds.
You are right, Jeanne, I don't know how to care about the salvation of my soul.
Some are called, others manage as well as they can.
I accept it, what has befallen me is just.
I don't pretend to the dignity of a wise old age.
Untranslatable into words, I chose my home in what is now,
In things of this world, which exist and, for that reason, delight us:
Nakedness of women on the beach, coppery cones of their breasts,
Hibiscus, alamanda, a red lily, devouring
With my eyes, lips, tongue, the guava juice, the juice of la prune de Cythère,
Rum with ice and syrup, lianas-orchids
In a rain forest, where trees stand on the stilts of their roots.
Death, you say, mine and yours, closer and closer,
We suffered and this poor earth was not enough.
The purple-black earth of vegetable gardens
Will be here, either looked at or not.
The sea, as today, will breathe from its depths.
Growing small, I disappear in the immense, more and more free.


http://www.youtube.com/watch?v=IoNli84m1mQ&feature=related

5 comentários:

  1. "Sim, as primaveras precisam de ti.
    Muitas estrelas queriam ser percebidas.
    Do pássaro profundo afluía uma vaga, ou
    quando passavas sob uma janela aberta,
    uma viola d'amore se abandonava. Tudo isto era missão.
    Acaso a cumpriste? Não estavas sempre
    destraído, à espera, como se tudo
    anunciasse a amada? (Onde queres abriga-la,
    se grandes e estranhos pensamentos vão e vem
    dentro de ti e, muitas vezes, se demoram nas noites?)"

    r.m.rilke

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  2. "Viveríamos apenas.
    Os caminhos aceitariam os nossos passos,
    e as florestas a nossa respiração.

    [...]

    Pois o que procuro é:
    tão só um lugar, onde fôssemos
    como lentos animais,
    como objectos reencontrados.
    Onde fosse comparável ao teu
    o mapa das linhas da minha mão,
    o tom desmaiado das minhas gengivas,
    a trama inútil dos meus gestos".

    p.zirkuli

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  3. Há certos versos – às vezes poemas inteiros –
    que eu próprio não sei o que querem dizer. O que ignoro
    retém-me ainda. E tu, tu tens razão em interrogar. Não interrogues.
    Já te disse que não sei.

    Duas luas paralelas
    vindo do mesmo centro. O ruído da água
    que cai, no inverno, da goteira a transbordar
    ou o ruído de uma gota de água caindo
    de uma rosa no jardim, regado há pouco,
    devagar, devagarinho, uma tarde de primavera,
    como soluço de um pássaro. Não sei
    que quer dizer este ruído: contudo, aceito-o
    As coisas que sei explico-tas.
    Sem negligência.
    Mas as outras também acrescentam a nossa vida.
    Eu olhava
    o seu joelho dobrado, como ela dormia,
    levantando o lençol –
    não era apenas amor. Este ângulo
    era o cume da ternura, e o cheiro
    do lençol, a lavado e a primavera, completavam
    este inexplicável, que eu procurei,
    em vão ainda, explicar-te.

    Yannis Ritsos

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  4. Há certos versos - às vezes poemas inteiros -
    que eu próprio não sei o que querem dizer. O que ignoro
    retém-me ainda. E tu, tu tens razão em interrogar. Não interrogues.
    Já te disse que não sei.
    Duas luzes paralelas
    vindo do mesmo centro. O ruído da água
    que cai, no inverno, da goteira a transbordar
    ou o ruído de uma gota de água caindo
    de uma rosa no jardim, regado há pouco,
    devagar, devagarinho, uma tarde de primavera,
    como o soluço de um pássaro. Não seique quer dizer este ruído; contudo aceito-o.
    As coisas que sei explico-tas,
    sem negligência.
    Mas as outras também acrescentam a nossa vida.
    Eu olhava
    o seu joelho dobrado, como ela dormia,
    levantando o lençol -
    não era apenas amor. Este ângulo
    era o cume da ternura, e o cheiro
    do lençol, a lavado e a primavera, completava
    este inexplicável, que eu procurei,
    em vão ainda, explicar-te.

    Yannis Ritsos

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  5. 'luzes' ou 'luas' paralelas, o que te parece?

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