quarta-feira, 2 de junho de 2010

Oh Jung-Hee



Espelho de Bronze

Os velhos não se retratam. Pois não estão à espera de uma nova vida que exija uma retratação.

[...]

A sombra já havia começado a descer num dos cantos do quintal enquanto as pétalas se encolhiam em cores mais escuras, na fina escuridão que ia subindo da terra. Mas quão longo seria o fluir invisível do tempo até que as flores mergulhassem no silêncio e no abismo?

Sentiu que deveria dizer alguma coisa para ela que já não tentava esconder o choro e precisava de um afago. Abriu os lábios com a timidez de um menino e também com um pouco de medo, mas ela não compreendeu as palavras que escapavam da boca sem definição. A esposa aproximou o ouvido bem pertinho dele e perguntou toda aflita. O que foi? O que você disse? Quem foi que veio mesmo?

Com os cabelos tingidos, pretos feito breu, ele ficou deitado com a boca arruinada entreaberta, uma boca que já não podia falar.

O reflexo do espelho que se movia rapidamente pelo teto e pelas paredes finalmente permaneceu parado sobre o copo de vidro. E, no silêncio decantado e escuro, somente a dentadura cintilava clara e brilhante como se quisesse dizer alguma coisa.


Um comentário:

  1. http://www.nysocialdiary.com/i/philanthropy/dramaticarts/AnneBancroft.jpg

    http://news.bbc.co.uk/media/images/40601000/jpg/_40601316_anne300_getty.jpg

    EU!

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