domingo, 15 de agosto de 2010

Jens Peter Jacobsen




Niels Lyhne

Feliz é aquele que, em seu luto pela morte de um ente querido, pode consagrar todas as lágrimas ao vazio, ao abandono, à privação daquele que se foi, pois mais penosos, mais amargos são os prantos que espiam a falta de ternura que os dias passados presenciaram contra aquele que agora está morto - e contra quem cometeram-se crimes irreparáveis. Retornam então as palavras duras, as respostas cuidadosamente envenenadas, a censura impiedosa e a cólera injustificada, e também os pensamentos hostis que não se externavam em palavras, os julgamentos precipitados que atravessaram o espírito, o dar de ombros discreto, e o riso oculto cheio de ironia e impaciência - voltam todos como flechas nocivas e cravam profundamente seus aguilhões no peito, seus aguilhões embotados, pois a ponta partida ficou no coração que não bate mais. Este não vive mais, nada mais pode reparar, nada. Agora há bastante amor em teu coração, mas agora é tarde; vai até o frio túmulo com teu coração agora generoso! Chega bem perto... Planta flores e tece coroas: nem por isso estarás mais perto do morto!

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