domingo, 19 de setembro de 2010

Voltaire

Cândido

"... cem vezes quis se matar, porém ainda amava a vida. Essa ridícula fraqueza talvez seja uma de nossas mais funestas aptidões: pois haverá algo mais tolo do que querer carregar continuamente um fardo que se quer jogar por terra? Ter horror ao seu ser e apegar-se a ele? Enfim, acariciar a serpente que nos devora, até que nos tenha comido o coração?"

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Jens Peter Jacobsen



Niels Lyhne

- Não posso ajudá-lo, senhor Bigum, o senhor não representa para mim nada do que deseja ser; se isso o faz infeliz, seja infeliz; se isso o faz sofrer, sofra; é preciso que existam homens que sofram. Quando alguém faz de uma criatura humana o seu Deus e árbitro do seu destino, é preciso inclinar-se ante os decretos do ídolo. Mas é imprudente forjar desse modo uma divindade e entregar-lhe a alma; pois existem deuses que não querem descer  do seu pedestal. Seja razoável, senhor Bigum; seu ídolo é tão pequeno, tão pouco digno de ser adorado; esqueça-o... e seja feliz com uma das moças do lugar.
[...]
Pela janelinha da água-furtada, Niels o observava. Tinha assistido a cena do princípio ao fim, e uma expressão de quase terror estampava-se em sua fisionomia, o corpo sacudido por um tremor nervoso. Pela primeira vez a vida lhe fazia medo, compreendia que quando um homem é condenado a sofrer, não se trata de poesia nem de uma simples ameaça; trata-se de ser arrastado à câmara de torturas e ser de fato torturado, e não há, no último momento, salvação como nos contos de aventuras nem despertar súbito como nos pesadelos.

Eis o que ele compreendeu, cheio de medo e de pressentimento.