sexta-feira, 24 de junho de 2011

floribundo



Trazia uma lembrança feliz de quase tudo que vivera na graduação. Meia dúzia de amigos, seus primeiros porres, um namoro mal resolvido. Gostava de passar as tardes num balanço atrás de um bambuzal, fumando com os amigos alguns baseados, diluindo na memória as aulas, deixando que tempo escorresse com calma numa despreocupada imprevidência. Uma vida lazer, como se diz.
Preferia se lembrar dos dias bonitos, quando fazia frio e todos caminhavam agasalhados sob a luz do sol, que percorria a grama miúda, já cinzenta, e que aos poucos ia sumindo, desfazendo-se no chão com a secura do inverno, até quase restar somente o barro, que por sua vez, tornaria então, como que por contraste, mais generosa a vista da desconcertante floração de ipês, que naquela época do ano inundavam o campus e pareciam tornar a vida mais alegre. 
E recordava especialmente de quando era preciso parar o carro antes da faixa pra que um pedestre com a mão esticada prosseguisse, e então, atrás dele, cruzassem também, em pequenos grupos, jovens calouros, satisfeitos e ainda sem carro, tranquilos, preguiçosos, taciturnos ou sonolentos, sobretudo entusiasmados por estarem ali, atravessando a faixa a caminho da UnB.
A luz do sol que refletia sobre o pára-brisa fixou-se em sua memória como um quadro, onde bem ao fundo, muito além dos pedestres, avistava também uma diminuta porção do lago e a névoa que sobre ele ascendia devagarinho, e antes disso, num plano mais próximo, assim, intermediário, um modesto ipê, já antigo, que coloria a grama com as pétalas amarelas das flores que se acomodavam ao chão no formato de um círculo caprichosamente mal traçado. 

3 comentários:

  1. http://www.youtube.com/watch?v=ExUosomc8Uc&feature=player_detailpage

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  2. http://www.youtube.com/watch?v=H4WGyrSU-LI&feature=related

    beijocas, meu bem

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  3. http://www.youtube.com/watch?v=0_z_UEuEMAo

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