sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Rafael R. Macêdo




seria assim

gosto da leveza que brota da tua gengiva, se acontece de você sorrir;
da combinação formosa da tua saia cáqui, assim, bordada,
com o azul escuro das tuas sapatilhas.

gosto disso; não sei por que.

e do modo curioso dos teus olhos ágeis, estrangeiros, infantis, cientes de tudo,
que me reconfortam, sem que você saiba, desde muito tempo...
sem que pra isso eu tenha escutado sequer teu nome,

como se tivesse sido sempre assim:
cálido e passageiro, ambíguo e inevitável,
contemplar teu rosto de longe e sempre.

por isso eu fico aqui.

do contrário, estaríamos longe agora, deitados, eu e você, assim:
preguiçosos e esquecidos, numa grama qualquer daqui,
invisíveis feito a chuva modesta, que de tão fina, cede seu passo à força do vento,
marejando os olhos da senhora gorda com carinho.

e talvez houvesse uma taça, muriçocas ou então formigas,
e assim você soubesse que prefiro sempre dormir de meias,
mesmo que não faça frio, que me sinto mais seguro assim.

e quem sabe você me contasse, numa calma sedutora,
apoiando suas costas pelos cotovelos, desse jeito,
tudo quanto foi seu dia até aqui, tudo quanto foi sua vida até eu te olhar;

e por tudo encontraria em mim uma expressão confortável de alegria,
feito uma esperança satisfeita, como se o tempo cochilasse,
se esquecesse da pressa, numa brincadeira morna e suave,
tão antiga quanto o próprio mundo.

seria assim, eu sei.
e de que outra forma poderia ser, meu deus?

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