tag:blogger.com,1999:blog-8914632555561528153.post1495283170392996956..comments2023-07-17T07:25:52.477-07:00Comments on floribundo: Rainer Maria Rilkefloribundohttp://www.blogger.com/profile/13729406256274916070noreply@blogger.comBlogger2125tag:blogger.com,1999:blog-8914632555561528153.post-41305318331229012842012-09-15T05:39:28.616-07:002012-09-15T05:39:28.616-07:00"Mas ser o que eu sou, viver o que me foi des..."Mas ser o que eu sou, viver o que me foi destinado viver, querer soar o que ninguém mais pode soar, brotar as flores ditadas ao meu coração: é isso o que quero - e isso decerto não pode ser arrogância."Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-8914632555561528153.post-32791341150463103002012-09-12T09:12:19.546-07:002012-09-12T09:12:19.546-07:00O que se segue é também uma lembrança repetida de ...O que se segue é também uma lembrança repetida de sua paz interior: como ela se sentava, pela manhã, à mesa do desjejum, com um sorriso nos olhos, que se haviam tornado profundamente azuis; e quando começávamos a desconfiar pudesse estar rindo de nós, acabávamos constatando que, na verdade, ela sorria para um sonho muito agradável. Daí surgiu o gracejo: depois de um dia especialmente pouco alegre (pois aborrecidos, por assim dizer, ela não conhecia), nossa Muschka compensava-se com noites divertidas. Nos últimos anos de sua vida, quando começou a ficar surda, achava engraçado que suas visitas, senhoras tão surdas quanto ela, conversassem sem se entender. Rindo alegremente, contava-nos como cada uma, ela inclusive, percebia bem as respostas erradas da outra, mas não se deixava absolutamente desconcertar por suas próprias respostas, não menos equivocadas. <br />Ao lado da leitura, o que mais a atraía era observar a natureza. A época do verão causava-lhe uma alegria transbordante e, no fim do outono, ela conversava, de suas janelas, com uma fileira de árvores de uma rua transversal como se elas fossem seres vivos, ou observava as dispersões da luz. Seus cômodos estavam sempre repletos de folhagens, cuidadas por ela mesma, mas ela não gostava de ter animais ao seu redor. Com idade muito avançada, toda posse parecia-lhe excessiva, como se fosse um atentado a esse seu “estar a sós”. Preocupava-se com grande dedicação e cautela em relação a cada um dos objetos de sua propriedade, mas alegrava-se também toda vez que, sem chamar a atenção, abria a mão de um deles, dando-o a nós ou a outras pessoas. Pouco a pouco surgiu a divertida necessidade de presenteá-la com as mesmas coisas, para que não acabasse rodeada pelo vazio. Às vezes, ela me dava a impressão de alguém que se libera ou se evade, e que, com todos os seus objetos, prepara para os seus que ficam pequenos ninhos; e eu parecia adivinhar, por trás dessa ocupação tão prosaica, sua atitude fundamental frente à vida e, principalmente, frente à morte: em contrapartida ao sentimento de ser despojada pela morte, a consciência da superfluidade da riqueza, num momento em que não se tem mais porque temer a necessidade. <br />Sempre me pareceu que as coisas são belas, valiosas, quando são presentes, não aquisições, porque assim trazem imediatamente consigo o segundo presente: o poder de sentir-se agradecido. <br />Anonymousnoreply@blogger.com