quarta-feira, 29 de maio de 2013

Philip Roth

O professor do Desejo (2)

"Quando vi você sentado sozinho com ela de repente pensei: "Não posso fazê-lo feliz. Não vou ser capaz disso". E também fiquei em dúvida se alguém poderia. Isso me chocou tanto que simplesmente tive de ir embora. Não sei se o que pensei é verdade ou não. Talvez você também não saiba. Ou talvez saiba. Seria muito doloroso deixar você agora, neste instante, mas estou preparada pra fazê-lo se for a coisa certa. Melhor agora do que daqui a três ou quatro anos, quando você for parte do próprio ar que respiro. Não é o que eu quero, David; não é alguma coisa que eu esteja minimamente propondo. Quem diz esse tipo de coisa corre o risco terrível de ser mal compreendido, e, por favor, não me compreenda mal. Não estou propondo nada. Mas, se você acha que sabe a resposta à minha pergunta, eu gostaria de conhecê-la o mais cedo possível, porque, se você não puder ser realmente feliz comigo, então me deixe ir para Vineyard. Depois disso, me arranjo sozinha. Mas não quero dar mais de mim a alguma coisa que não vai evoluir e se transformar numa família. Nunca tive uma família que fizesse o menor sentido, e quero uma que faça. Preciso ter isso. Não estou dizendo amanhã. Mas lá adiante, é o que quero. Se não for assim, prefiro arrancar as raízes agora mesmo, antes que isso exija uma enxada. Gostaria que, se possível, nos separássemos sem uma amputação sangrenta."  

Neste ponto, embora o sol forte houvesse secado inteiramente seu corpo, ela tremeu dos pés à cabeça. "Acho que é tudo o que tenho a dizer com a energia que me sobrou. E não precisa pronunciar uma palavra. Prefiro que não diga nada, pelo menos agora. Se não for assim, isso vai soar como um ultimato, o que não é. É um esclarecimento, nada mais. Nem queria falar sobre isso, imaginei que o tempo se encarregaria de tudo. Mas, pensando bem, é o tempo que pode acabar comigo. E, por favor, não é preciso responder com sons tranquilizadores. É só que, de repente, tudo me pareceu uma tremenda ilusão. Fui muito assustador. Por favor, não fale - a menos que saiba de alguma coisa que eu deva saber."

"Não, eu não sei."

"Então vamos para casa."

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