Se em sua opinião a relação ente vida e consciência é surpreendente,
considere o seguinte: a sobrevivência
depende de encontrar e incorporar fontes
de energia e de prevenir todos
os tipos de situações que ameaçam a integridade dos tecidos viveríamos. Por certo é
verdade que, sem ações, organismos
como o nosso não sobreviveriam, pois as fontes de energia necessárias para
renovar a estrutura do organismo e manter a vida não encontradas e
postas a serviço do organismo, e muito menos seriam evitados os perigos do
ambiente. Mas, por conta própria, sem a orientação
das imagens, as ações não nos levariam muito longe. Ações eficazes requerem a companhia de imagens eficazes. As imagens
permitem-nos escolher entre repertórios de padrões de ação previamente
disponíveis e otimizar a execução da ação escolhida – podemos, de modo mais
ou menos deliberado, passar em revista mentalmente as imagens que representam
diferentes opções envolvidas numa ação, diferentes cenários, diferentes
resultados da ação. Podemos selecionar a mais apropriada e rejeitar as
inconvenientes. As imagens também nos permitem inventar novas ações a serem aplicadas a
situações inéditas e fazer planos para ações futuras – a capacidade de
transformar e combinar imagens de ações e cenários é a fonte da criatividade.
Se as ações estão no cerne
da sobrevivência e seu poder vincula-se à disponibilidade de imagens
orientadoras, então um mecanismo capaz de maximizar a manipulação eficaz de
imagens a serviço dos interesses de um organismo específico conferiria um
enorme vantagem aos organismos que o possuíssem, e esse mecanismo provavelmente
teria prevalecido na evolução. A consciência é precisamente esse mecanismo.
Esconde-esconde
A consciência começa quando os cérebros adquirem o poder – o poder
simples, devo acrescentar – de contar uma história sem palavras, a história de
que existe vida pulsando incessantemente em seu organismo, e que os estados do
organismo vivo, dentro das fronteiras do corpo, estão continuamente sendo alterados
por encontro com objetos ou eventos em seu meio ou também por pensamentos e
ajustes internos do processo da vida. A consciência emerge quando essa história
primordial – a história de um objeto alterando de forma causal o estado do
corpo – pode ser contada usando um vocabulário não verbal universal dos sinais
corporais. O self manifesto emerge como o sentimento de um sentimento.
Quando a história é contada pela primeira vez,
espontaneamente, sem nunca ter sido demandada, e depois disso sempre que ela é
repetida, o conhecimento do que o organismo está vivenciando emerge
automaticamente como a resposta a uma pergunta nunca formulada. Desse momento
em diante começamos a conhecer.
Imagino que a consciência possa ter prevalecido na evolução porque
conhecer os sentimentos causados pelas emoções era absolutamente indispensável
para a arte de viver, e porque a arte de viver foi um tremendo sucesso na
história da natureza. Mas não me incomodarei se você preferir deturpar minhas
palavras e disser apenas que a consciência foi inventada para que pudéssemos
tomar conhecimento da vida. Obviamente, do ponto de vista científico o fraseado
não está correto, mas eu gosto dele.
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