Colinas como elefantes brancos
[...]
A brisa quente sacudiu a cortina de bambu por sobre a mesa.
- A cerveja é boa e está bem gelada - comentou o homem.
- Está ótima! - Concordou a garota.
- Será muito simples essa operação, Jig. Nem chega a ser uma operação para valer - disse ele.
A moça olhou para o chão onde a mesa pousava.
- Estou certo de que não se preocupa com ela, Jig. É mesmo uma coisa à toa para que o ar possa entrar melhor.
Ela continuou em silêncio.
- Vou com você e fico o tempo todo junto com você. Eles apenas vão deixar que o ar entre, e depois tudo volta ao normal.
-Depois, o que faremos?
- Depois disso, tudo ficará bem. Do jeito que éramos antes.
- Por que é que você diz isso?
- Porque é a única coisa que nos incomoda. A única coisa que nos deixa infelizes.
A garota examinou distraidamente a cortina e apanhou duas fileiras de contas.
- Acha mesmo que tudo correrá bem e seremos felizes então?
- Sim, certeza que seremos! Não há o que temer. Conheço um bocado de gente que já fez operações como essa.
- Eu também conheço - admitiu a moça. - E sei que ficaram muito felizes depois.
- Bem - ponderou o homem o homem -, você não está obrigada a fazê-la. Caso não queira, não se fala mais nisso. Mas que é uma moleza, garanto que é.
- E você quer mesmo que eu a faça, não é?
- Acho que é a melhor coisa a fazer, Mas só quero que faca se isso for de seu desejo.
- E, se eu a fizer, você ficará feliz, as coisas voltarão a ser o que eram, e você me amará de novo?
- Eu a amo agora, como é. Bem sabe que sempre a amei.
[...]
- Poderíamos ter tudo isto - falou ela. - Não há o que não possamos ter, embora o tornemos impossível a cada novo dia...
- O que é que está dizendo?
- Disse que poderíamos ter todas as coisas...
- E poderemos tê-las!
- Não, não poderemos.
- Teremos todo mundo ao nosso alcance!
- Não, não teremos.
- Não haverá lugar algum aonde não possamos ir!
- Não, não poderemos. O mundo já não nos pertence mais.
- Você está enganada! Ele é nosso!
- Já não é! E, depois que o tiraram de nós, jamais o devolverão.
[...]
- Claro! Mas gostaria que você compreendesse...
- Estou compreendendo - atalhou a moça. - Será que não poderíamos parar com esta conversa?
Sentou-se novamente à mesa e passou a examinar o horizonte, limitado pleas colinas de um lado e pelo vale seco do outro. O homem olhava ora para ela, ora para a mesa.
- Quero mais uma vez que você compreenda não estar de modo algum obrigada a fazer o que não quiser. Estou disposto a topar o que der e vier se isso é realmente importante para você.
- E para você, não é? Poderíamos nos entender muito bem assim mesmo...
- Claro que poderíamos! Você é a única pessoa a quem realmente quero. Mas que a coisa é simplíssima, bem sei que é.
- Sim, você é quem sabe.
- Pode brincar com as palavras, mas sei mesmo que é.
- Você seria capaz de fazer algo por mim neste intestate?
- Faço qualquer coisa por você!
- Então, por favor, cale essa boca!
Nenhum comentário:
Postar um comentário