Detecte o perigo, transforme
o perigo em catástrofe, controle a situação, evite ou escape.
Uma maneira muito comum de se tentar evitar a ansiedade talvez seja evitar a situação
como um todo. A crença subjacente é a de
que os riscos podem ser eliminados pela recusa de enfrenta-los. A segurança
reside da manutenção da ilusão de segurança. [...] Uma consequência dessa regra
é a paralisia. Temos medo de andar de avião, por isso nunca fazemos aquela
visita importante a alguns familiares. Temos medo de não sermos aceitos para o
trabalho que desejamos, por isso nunca nos candidatamos a ele. Alguém com quem
não nos damos bem mora em uma rua próxima e, por isso, sempre evitamos passar
por ela, mesmo que tenhamos que fazer um caminho mais longo. Quando nossa
convicção subjacente é a de que não podemos lidar com qualquer desconforto,
nossa vida fica cercada por todas as espécies de limitações, que nos mantém
imóveis, passivos e escondidos.
Uma manifestação comum da paralisia que nos acomete é a indecisão. Com frequência, nos
recusamos a agir até que tenhamos o que consideramos ser informações suficientes – que, de alguma forma, nunca conseguimos
obter. O medo de tomar a decisão “errada”
(que em circunstâncias primitivas poderiam significar a morte súbita e
violenta) nos impede de tomar qualquer decisão. Quando estamos ansiosos, tentamos evitar completamente os riscos.
Acreditamos que o mundo é perigoso, que não seremos capazes de enfrentar as
consequências e precisamos de certeza absoluta. E quando estamos ansiosos,
acreditamos que se algo não for bem nos arrependeremos para sempre. Imaginamos
que nos arrependeremos dos resultados e diremos a nós mesmos: “Bem que eu te
avisei!”.
Nossa ansiedade leva a procrastinação.
Nosso cérebro primitivo nos diz que não devemos fazer nada até que saibamos que é seguro, até que não mais
tenhamos medo. A mensagem persiste, e por isso acreditamos que é importante não
agir até que estejamos prontos. Enquanto nos sentirmos ansiosos em relação
a uma situação, a adiaremos – seja tal situação declarar o imposto de
renda, trabalhar em um projeto que não temos certeza de que controlaremos, ter
um conversa sobre um assunto delicado com alguém ou ir ao dentista. Subjacente a isso está a crença de que as penosas consequências da ação decisiva são maiores do
que não fazer nada; de que o caminho “mais seguro” é o de esperar até que a
ansiedade vá embora. De todas as nossas ilusões, essa é a que aparece com maior
frequência.
E se for tarde demais para evitar uma situação? E se já estivermos
imersos nela? Obviamente, a estratégia é a de escapar o mais cedo possível.
Novamente, a ligação com as urgências primitivas é clara: retirar-se rapidamente da situação quase sempre foi uma questão de
sobrevivência. Nos dias de hoje buscamos uma saída. Atravessamos a rua para
escapar de um bando de estranhos. Ligamos para nosso trabalho avisando que estamos
doentes no dia de um exame importante. Não enfrentar uma fonte de perigo é um
instinto tão profundo e poderoso que muitas vezes supera todas as outras
considerações. É claro que quando
obedecemos à urgência deixamos de aprender uma lição importante, que é a de que
nós de fato temos capacidade de aprender a lidar com as dificuldades.
Quando buscamos escapar de tais situações, contudo, jamais levamos esse fator
em consideração.
Ao codificar essas “regras” de ansiedade, obviamente
simplifiquei muito. Na prática, há muitas sobreposições entre elas, isso para
não mencionar muitas situações que elas se misturam com impulsos do senso comum.
Contudo, conhecemos todas essas regras, sejamos classificados como pessoas que
sofrem de ansiedade ou não. Isso ocorre porque os padrões de pensamento e
comportamento que elas representam foram inextricavelmente implantados em nossa
psicologia, como espécie. Nossos instintos de proteção – a verdadeira origem
dessas regras – não são diferentes do que eram há milhões de anos: Detecte o perigo, transforme o perigo em catástrofe, controle a situação, evite ou escape. A julgar por nosso sucesso como espécie, essas regras provaram
ser eficazes durante milhões de anos de pré-história. Todavia, se nós ainda as
seguimos cegamente nos dias de hoje – em que os animais selvagens, as tribos
hostis, as doenças e a desnutrição não são mais as principais ameaças –, não
estamos mais levando em conta nossa sobrevivência. Estamos fazendo exatamente o
contrário: tornando-nos confusos, disfuncionais, paralisados e incapazes de um
pensamento ou de uma ação eficaz. Estamos usando as regras certas no momento
errado. Na verdade, obedecer a essas regras hoje talvez seja a melhor maneira
de desenvolver o que a sociedade chama de transtorno de ansiedade.
Fotografia: James Nachtwey
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