2 – Olho: o renascimento da visão
De todas as coisas que me
aconteceram, acho que a menos importante foi ter sido cego.
James Joyce, tal como citado por J.L. Borges
Se você estiver sentado lendo este livro à luz solar, os fótons que
chegam à sua retina nasceram há apenas oito minutos e meio, por meio de fusão
no núcleo do Sol. Há cinco minutos eles passaram como um raio pela órbita de
Mercúrio, há dois minutos deixaram Vênus para trás. Os que não foram
interceptados pela Terra passarão pela órbita de Marte daqui a cerca de quatro
minutos, e pela de Saturno dentro de pouco mais de uma hora. Depois dessa
viagem através do espaço, num tempo imutável (porque, como Einstein
compreendeu, por se mover à velocidade da luz, o tempo é imobilizado), a luz
branca do Sol envolve o mundo à nossa volta e se fragmenta numa dispersão
multicolorida. Essa dispersão é afunilada pela córnea e o cristalino do olho
antes de tombar na rede de segurança da retina. A energia desse impacto faz com
que proteínas dentro da rede se curvem, iniciando uma reação em cadeia, a qual,
se proteínas suficientes se torcerem, leva à excitação de um único nervo da
retina e à percepção de uma única centelha de luz.
Podemos saborear o que está em nossas bocas, tocar o
que está ao nosso alcance, sentir cheiros a centenas de metros e ouvir coisas a
dezenas de quilômetros. Mas é somente através da visão que estamos em
comunicação com o Sol e as estrelas.
Fotografia: Martin Chambi
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