O que a evolução pode ensinar sobre a ansiedade?
Por que somos tão ansiosos? Como os nossos medos irracionais se encaixam
no quadro evolutivo? Por que não conseguimos nos desligar à noite e não
dormimos bem? Por que nos preocupamos com coisas sobre as quais não podemos fazer
nada a respeito, pensamos sobre erros passados, ficamos obcecados com o que as
outras pessoas pensam de nós, estabelecemos padrões – para nós mesmos – que nos
entristecem, criamos cenários futuros terríveis a partir do nada,
paralisamo-nos por causa de nossos próprios medos de modo que não conseguimos
pensar ou agir com eficácia? Por que nossas vidas pessoais são, com tanta
frequência, uma bagunça, mesmo quando nossa eficiência, como espécie, nos dá um
predomínio sem precedentes sobre a natureza? [...]
A ansiedade foi umas principais ferramentas para a sobrevivência.
Foi simplesmente a maneira de a natureza instilar a prudência em nós. [...] Embora a linguagem tenha nos dado
ferramentas, as emoções eram ainda a força motriz do comportamento humano. E a
ansiedade foi uma das principais emoções. [...] Em geral, muitos dos
transtornos de ansiedade que experimentamos hoje têm sua origem nos medos
programados em nós por nossa história evolutiva. [...] A evolução, portanto,
tende a favorecer a precaução: ela quer que sejamos supercuidadosos, constantemente
alertas ao perigo. Ela nos ensina a não deixarmos de ser vigilantes só porque
um perigo que imaginamos não veio a
se concretizar.
Isso é fundamental para nossa compreensão da ansiedade. O que nós
pensamos ser um “transtorno” de ansiedade – um peculiar desvio da norma – não é
uma aberração mas simplesmente o resultado natural de nossa história evolutiva.
A evolução “instalou”, para isso, um software
em nosso cérebro, como um mecanismo de sobrevivência. O problema não está
em nós, mas na vida que levamos – no fato de ela ter mudado muito drasticamente
em relação à vida que levávamos na savana ou na floresta. Ironicamente, o
problema é que nosso ambiente é mais
seguro agora, e nossos medos são, então, desnecessários. Eles não nos
protegem tanto quanto inibem nossa fruição da vida. É o medo certo no
momento errado. O que era perigoso antigamente pode não ser hoje, ao passo
que um comportamento antes inconsequente pode hoje ser seriamente prejudicial à
nossa capacidade de funcionar em nossas vidas econômicas, sociais e pessoais.
Os padrões que nos protegiam na vida selvagem não mais têm sentido no mercado
de trabalho, em casa ou no bairro. O que se pede
a nós é que modifiquemos nossos instintos primitivos de modo adequado à
nossa realidade de hoje.
Isso é possível? Por meio do exame de algumas maneiras pelas quais a
ansiedade limita e controla nossas vidas possamos chegar a uma melhor
compreensão de como lidar com ela. Ao conquistarmos a consciência de como o medo opera em nossas vidas começamos a
afrouxar a pressão sobre nós. Começamos a trabalhar com nosso medo de uma
maneira produtiva, que tira vantagem de nossa capacidade de aprender, de nos
adaptar a novas circunstâncias. [...] Há uma coerência subjacente ao processo
pelo qual o medo se torna um fator preponderante. Da mesma maneira, há uma
coerência subjacente ao processo pelo qual podemos neutralizar esse medo.
Nossas mentes são como filtros pelos quais vemos a realidade. Elas foram
programadas por nossa história evolutiva e por nosso condicionamento de toda
uma vida para enviar-nos mensagens constantes, não raro irracionais, sobre a
natureza dessa realidade, e também instruções sobre como responder. Quando
experimentamos a ansiedade, a mensagem é que nada é seguro. As instruções que acompanham a mensagem dizem que há
algo fundamental que devemos fazer (ou não fazer) para ficarmos seguros. Mas, e
se nada disso for verdadeiro? E se a
mensagem for falsa e as instruções contraproducentes? Afinal de contas, a
mensagem é simplesmente uma mensagem – não precisamos acreditar nela. Ao
colocarmos em questão a mensagem do medo, ao questionarmos sua verdade, ao colocarmos tal mensagem à luz da experiência,
enfraquecemos seu poder de controlar nossos pensamentos e nosso comportamento.
Abrimo-nos, então, para verdadeiro potencial e para nossa verdadeira liberdade.
Fotografia: James Natchwey
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