A origem das mentes
Como é que se passa da vida
enganosamente simples de quase 4 bilhões de anos atrás até a vida dos últimos
cerca de 50 mil anos, a que nutre as mentes culturais humanas? O que podemos
dizer sobre a trajetória e os instrumentos que ela usou? Dizer que a genética e
a seleção natural são a chave da transformação é pura verdade, mas não basta.
Precisamos reconhecer a presença do imperativo homeostático – usado para o bem
ou não – como um fator nas pressões seletivas. Precisamos reconhecer o fato de
que não houve uma linha de evolução única, nem uma simples progressão na
complexidade e eficiência dos organismos, que ocorreram altos e baixos e até
extinções. Precisamos ressaltar que foi preciso uma parceria de sistemas
nervosos e corpos para gerar mentes humanas, e que mentes surgiram não em
organismos isolados, mas em organismos que faziam parte de uma estrutura
social. Por fim, precisamos ressaltar o enriquecimento de mentes pelos
sentimentos e subjetividade, pela memória baseada em imagens e pela capacidade
de encadeá-las em narrativas que provavelmente começaram com sequências não
verbais análogas a um filme, mas terminaram, depois do surgimento de linguagens
verbais, combinando elementos verbais e não verbais. O enriquecimento veio a
incluir a capacidade de inventar e produzir criações inteligentes, um processo
que gosto de chamar de “inteligência criativa”, e que está um degrau acima das
engenhosidades que permitem a numerosos organismos vivos, inclusive o humano,
comportar-se com eficiência, rapidez e êxito na vida cotidiana. A inteligência criativa foi o meio pelo qual
imagens mentais e comportamentos foram combinados intencionalmente para fornecer
soluções inovadoras aos problemas que os humanos diagnosticavam, para construir
novos mundo para as oportunidades que imaginavam.
Em: A estranha ordem das coisas Fotografia: James Nachtwey
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