terça-feira, 16 de julho de 2013

Pedro Juan Gutiérrez



O Rei de Havana

Às vezes, gostava de observar. Agora, tinha uma fome de cão. Sem comida e sem dinheiro, teria de observar melhor ainda. Quem sabe aparecia alguma coisa comestível. Chegou ao Malecón. Sentou-se no muro, para tomar a fresca. Como sempre acontecia com ele, tinha tanta fome que não sentia mais. Fazia muito calor, embora o crepúsculo já se acendesse sobre o mar com tintas alaranjadas, cinzentas, vermelhas, rosadas, azuis, violeta, brancas. Só vendo pra crer. O sol afundando no mar e todas aquelas cores no céu. Sem camisa, Rey sentia o suor escorrer das axilas e pelas costas até as nádegas. O saco também estava suando e ele todo fedia a bodum forte. Fazia muitos dias que não tomava banho. Cheirou as axilas. Gostava daquele cheiro. Cheirava a si mesmo várias vezes por dia. Ficava excitado de se cheirar. Sentiu uma leve ereção. Mas estava com vontade de mijar. Sentou-se bem na beirada do muro. Tirou a vara meio dura e mijou no mar. Uma mulher que estava beijando o namorado ficou olhando fixamente pra ele, fascinada por aquele belo instrumento. Rey percebeu e gostou. Mexeu um pouco o pau. Cuspiu na cabeça para deslizar melhor e se masturbou um pouco em honra de sua admiradora.  O homem, de costas, não fazia ideia do que estava acontecendo. Ela segurava a cabeça dele, beijava seu pescoço, e seus olhos se arregalavam olhando a piroca de Rey. Ele tinha se excitado cheirando a si próprio, como fazem os macacos e muitos outros animais, inclusive o  homem. E agora tinha uma admiradora entusiasmada que a qualquer momento era capaz de largar o noivo e se aproximar de Rey para completar amavelmente sua masturbação.  Mas Rey se lembrou da fome e pensou: "Se eu gozar agora, desmaio, porra!" Guardou o material, olhou uma última vez a jovem fã e saiu andando pelo Malecón, para o porto. Deteve-se um instante e correu os olhos em busca de Magda: o ponto de camelo na esquina de San Lázaro e Marqués González, a porta da capela, a esquina do hospital, o parque Maceo.  Olhou devagar. Magda não estava por ali. Estava louco para vê-la, para deitar com ela, beijar-lhe a bunda e mergulhar numa daquelas trepadas loucas que duravam três dias e terminavam quando o pau e a buceta lhes ardiam tanto que tinham de parar senão começavam a sangrar. "Por onde será que anda aquela louca? Com quem está?", perguntou-se algumas vezes, e em seguida deixou o assunto pra lá.  Seguiu pelo Malecón, mais dois quarteirões. Não sabia para onde ir. Como fome e sem dinheiro. Sua morte e sua desgraça era que vivia exatamente o minuto presente. Esquecia com precisão o minuto anterior e não se antecipara nem um segundo ao próximo. Tem quem vida dia a dia. Rey vivia minuto a minuto. Só o momento exato que respirava. Aquilo era decisivo para sobreviver e ao mesmo tempo o incapacitava de fazer qualquer projeto positivo. Vivia do mesmo modo que a água estancada num charco, imobilizada, contaminada, se evaporando em meio a uma podridão asquerosa. E desaparecendo.