terça-feira, 10 de agosto de 2010

Jens Peter Jacobsen




Niels Lyhne

Eu desprezo a imaginação. Quando todo o nosso ser anseia pelo coração de um homem, de que vale abrigar-se na câmara fria da imaginação? E quantas vezes isso não é tudo que nos é dado! E quantas vezes não devemos nos resignar a sermos adornadas pela fantasia daquele a quem amamos, que nos cinge a testa com uma auréola, cola-nos asas aos ombros e nos envolve numa túnica semeada de estrelas, e só nos julgas dignas de amor depois de nos termos revestido dessa fantasia, na qual nenhuma de nós assemelha a si mesma, porque esse disfarce nos incomoda e porque alguém nos perturba, alguém que se joga aos nossos pés e nos adora, em vez de nos tomar simplesmente como somos e desse modo simplesmente nos amar.
[...]
Essa adoração de que somos alvo, essa espécie de fanatismo no fundo é tirânica: somos obrigadas a nos amoldar ao ideal dos homens. Corta-se uma lasca do calcanhar, uma ponta do dedão!... Tudo aquilo em nós que não se adapta a essa imagem ideal deve ser suprimido - quando não pelo abafamento, pelo fato de que é ignorado, sistematicamente esquecido, qualquer expressão espontânea de nossa natureza é negada; por um lado aquilo que não nos é natural ou que não nos é peculiar, isso é freneticamente estimulado, é elevado às nuvens sempre na suposição de que possuímos em alto grau estas qualidades estranhas - e dessas qualidades é feita a pedra fundamental sobre a qual os homens edificam seu amor. Considero isso uma violência contra a natureza. Considero isso o mesmo que adestramento de animais. O amor do homem é o de um domador. E nós nos sujeitamos a isso; mesmo aquelas que não são amadas submetem-se junto com as outras - tão desprezível é a nossa fraqueza! 

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