sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Jens Peter Jacobsen



Niels Lyhne

- Não posso ajudá-lo, senhor Bigum, o senhor não representa para mim nada do que deseja ser; se isso o faz infeliz, seja infeliz; se isso o faz sofrer, sofra; é preciso que existam homens que sofram. Quando alguém faz de uma criatura humana o seu Deus e árbitro do seu destino, é preciso inclinar-se ante os decretos do ídolo. Mas é imprudente forjar desse modo uma divindade e entregar-lhe a alma; pois existem deuses que não querem descer  do seu pedestal. Seja razoável, senhor Bigum; seu ídolo é tão pequeno, tão pouco digno de ser adorado; esqueça-o... e seja feliz com uma das moças do lugar.
[...]
Pela janelinha da água-furtada, Niels o observava. Tinha assistido a cena do princípio ao fim, e uma expressão de quase terror estampava-se em sua fisionomia, o corpo sacudido por um tremor nervoso. Pela primeira vez a vida lhe fazia medo, compreendia que quando um homem é condenado a sofrer, não se trata de poesia nem de uma simples ameaça; trata-se de ser arrastado à câmara de torturas e ser de fato torturado, e não há, no último momento, salvação como nos contos de aventuras nem despertar súbito como nos pesadelos.

Eis o que ele compreendeu, cheio de medo e de pressentimento.

7 comentários:

  1. "A fome é a
    saudade do corpo. A saudade é a fome da alma." Rubem Alves -

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  2. Q sou eu afinal q sou eu afinal além de 1 criança contente em ouvir o som do próprio nome? Repetindo indo, ouvir nunca me cansa. WaltWhitman

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  3. Finos vapores escapam de tudo que fazem os vivos.
    A noite é fria e delicada e cheia de anjos
    Esmagando os vivos. As fábricas estão todas iluminadas,
    O soar do carrilhão se eleva, sem ser ouvido.
    Afinal estamos juntos, ainda que muito distantes.
    (John Ashbery, The Ecclesiast)

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  4. Dizem que o tempo ameniza.
    Isto é faltar com a verdade.
    Dor real se fortalece
    Como os músculos, com a idade.

    É um teste no sofrimento
    Mas não o debelaria.
    Se o tempo fosse remédio
    Nenhum mal existiria.

    (Emily Dickinson)

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  5. há sempre um novo tempo.

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  6. http://www.youtube.com/watch?v=1hx5-XoRCVw

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  7. a tristeza até a felicidade. afelicidade até a tristeza. depois deseja-se mais.

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