segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Rainer Maria Rilke





Como outras pessoas arrasadas pelo sofrimento podem alcançar o profundo e fértil solo para a grande paciência? Já me fiz essa pergunta várias vezes, sem ter chegado a uma explicação. Mas é preciso admitir que dificilmente há outra coisa que se ofereça ao nosso olhar em tão variadas manifestações - do exemplo banal até a mais inesquecível forma - como o fato de que a vida, nas circunstâncias mais insultantes, tormentosas, até mesmo mortais, vicejou; de que pessoas foram capazes de amá-la quando ela era horrível em toda parte. E até mesmo o fato de que indivíduos que haviam levado um destino radiante vivido com indiferença, sem muito prazer e participação, desfraldaram a alegria e a segurança de seu coração quando, após uma queda repentina de sua situação no desespero, viram-se doentes, maltratados e no fundo de prisões insondáveis; de que só então tiveram direito de realmente conhecer e desfrutar essa alegria e segurança. Eu, quando pude e com grande zelo, fui no encalço de tais histórias de vida, e, apesar de não ter visto brilhar em nenhuma delas o próprio segredo que torna possíveis tais sobrevivências colossais, vivo na constante convicção de que elas ocorrem o tempo todo.


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