quarta-feira, 29 de maio de 2013

Philip Roth


O professor do Desejo (3)

Ah, minha amada inocente, você não é capaz de entender e eu não consigo te dizer. Não consigo, pelo menos não nesta noite, mas dentro de um ano minha paixão já estará morta. Já está morrendo, e temo que não haja nada que eu possa fazer para salvá-la. E nada que você possa fazer. Intimamente unidos - unido a você como a mais ninguém! E nem serei capaz de erguer a mão para tocá-la... a menos que me lembre  antes que devo fazê-lo. A carne em que fui enxertado e que me ajudou a retornar algum controle sobre minha vida já não me inspirará nenhum desejo. Ah, é uma besteira! Uma idiotice! Uma injustiça! Ser roubado assim de você! E desta vida que eu amo e que mal cheguei a conhecer! E roubado por quem? Em última análise, o culpado sou sempre eu mesmo!

[...]

Durante toda a noite, pesadelos circulam pela minha cabeça como  a água pelas guelras de um peixe. Quase de madrugada acordo para descobrir que a casa não foi reduzida a cinzas nem fui abandonado em minha cama como um doente incurável. Minha solícita Clarissa ainda está comigo! Levanto a camisola, desnudo seu corpo inconsciente e começo a pressionar e a puxar seus mamilos com os lábios até que nas auréolas pálidas, aveludadas, infantis, se levantam grânulos diminutos e ela começa a gemer.  Mas até mesmo enquanto chupo num frenesi desesperado o bocado mais apetitoso de sua carne, mesmo enquanto lanço toda minha felicidade acumulada e toda minha esperança contra o medo das transformações que virão, fico na expectativa de ouvir o som mais tétrico imaginável vindo do quarto onde os sr. Barbatink e papai estão deitados, sós e sem sentidos, cada qual em sua cama feita com todo o cuidado.

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