segunda-feira, 1 de maio de 2017

James Wood



Empatia e Complexidade 
“O maior benefício que devemos ao artista, seja pintor, poeta ou romancista, é o desenvolvimento da nossa empatia [...] A arte é a coisa mais próxima da vida; é um modo de aumentar a experiência e ampliar nosso contato com os semelhantes para além do nosso destino pessoal” George Eliot.
“A identificação com os personagens depende, de certa maneira, da verdadeira mímese da ficção: ver o mundo e seus habitantes fictícios realmente pode ampliar nossa capacidade de empatia no mundo real.”
“A fonte de nosso sentimento de solidariedade pela miséria dos outros” brota “trocando imaginariamente de lugar com o sofredor” – ao nos colocarmos na pele dos outros.” Adam Smith
“A raiva e a preocupação atrapalham a simpatia”    
“O filósofo Bernard Williams se preocupava com a insuficiência da filosofia moral. Ele acreditava que grande parte dela, desde Kant, basicamente excluíra o problema do eu da discussão filosófica. Segundo ele, a filosofia tendia a encarar os conflitos de crenças de fácil solução, e não como conflitos de desejos, não tão simples de resolver.”
“Seu interesse residia nos “dilemas trágicos”, segundo sua expressão, em que alguém se vê perante duas obrigações morais conflitantes, ambas igualmente prementes. Para Williams, a filosofia moral deveria examinar a verdadeira estrutura da vida emocional em vez de discorrer sobre o eu em termos kantianos de coerência, princípios e universalidade. Não, diz Williams, as pessoas são incoerentes; elas decidem os princípios conforme o andamento; são determinadas por todo tipo de coisa – genética, a formação, a sociedade, etc.”
Williams recorria a exemplos da tragédia e epopeia grega, personagens se debatendo em “conflitos individuais”. Nunca fala sobre o romance, talvez porque este tenda a apresenta esses conflitos trágicos de maneira menos trágica, mais branda. Todavia, esses conflitos mais brandos nem por isso são menos interessantes ou profundos.
Exemplo de algumas revelações empíricas que o romance nos oferece sobre o casamento, não um casamento magnificamente feliz, nem mesmo estrondosamente infeliz, mas um que é apenas adequado, no qual os embates e pequenas concessões são coisas cotidianas.  Eis o sr. e a sra. Ramsay andando pelo jardim e conversando sobre o filho:
Houve uma pequena pausa. Ela gostaria que fosse possível convencer Andrew a estudar mais. Perderia todas as oportunidades de ganhar uma bolsa de estudos. Mas ela ficaria com ele do mesmo jeito se não ganhasse. Eles sempre discordam à respeito. Ela gostava dele por ele acreditar em bolsas de estudo e ele gostava dela por ela se orgulhar de Andrew no que quer que ele fizesse.
A sutileza consiste em que ambos discordam, mas mesmo assim querem que o outro continue a ser como é.
O romance, evidentemente, não fornece respostas filosóficas (como disse Tchekhov, basta fazer as perguntas certas). Por outro lado, ele faz o que Williams queria que a filosofia moral fizesse – dá a melhor apresentação da complexidade de nossa estrutura moral.  Quando Pierre, em Guerra e Paz, começa a mudar de ideias sobre si e sobre os outros, ele percebe que a única maneira de entender bem as pessoas é ver as coisas do ponto de vista delas:

Em suas relações com Villárski, com a princesa, com o médico, com todos aqueles que agora encontrava, havia em Pierre um traço novo que o levava a ganhar a simpatia de todos: era o reconhecimento da possibilidade de todas as pessoas pensarem, sentirem e verem as coisas à sua maneira; o reconhecimento da impossibilidade de dissuadir uma pessoa por meio de palavras [...] A diferença e, às vezes, a completa contradição entre os pontos de vista das pessoas e sua vida, e também entre as próprias pessoas, alegrava Pierre e provocava nele um sorriso irônico e manso. 

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