terça-feira, 28 de julho de 2009

Czeslaw Milosz




NÃO MAIS


Preciso contar um dia como mudei
Minha opinião sobre a poesia e por que
Me considero hoje um dos muitos
Mercadores e artesãos do Império do Japão
Compondo versos sobre a floração da cerejeira,
Sobre crisântemos e a lua cheia.
Se eu pudesse descrever as cortesãs
De Veneza, como incitam com uma vareta o

pavão no pátio
E desfolhar do tecido sedoso, da cinta nacarina
Os seios pesados, a marca
Avermelhada no ventre onde o vestido se

abotoa,
Ao menos assim como as viu o dono das

galeotas
Arribadas àquela manhã carregando ouro;
E se ao mesmo tempo pudesse encerrar seus

pobres ossos
No cemitério, onde o mar oleoso lambe

o portão,
Em palavras mais duráveis que o derradeiro

pente
Que entre carcomas sob a lápide, só, espera

pela luz
Não duvidaria. Da resistência da matéria
O que se retém? Nada, quando muito o belo.
Então devem nos bastar as flores da cerejeira
E os crisântemos e a lua cheia.







2 comentários:

  1. CZESŁAW MIŁOSZ (1911-2004), poeta, romancista, historiador e ensaísta, nasceu a 30 de Junho de 1911, em Szetejny, na Lituânia, país onde se formou em direito pela Universidade de Vilnius. Foi um dos principais animadores culturais da tertúlia clandestina em Varsóvia, na Polónia, país que adoptou e o adoptou. Depois da ocupação nazi, trabalhou como diplomata em Nova Iorque, Washington e Paris, tendo recebido o Nobel da Literatura em 1980.

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  2. e naquela noite queimei o liquidificador e cozinhei um bolo no microondas de gosto nem aos inimigos.di

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