domingo, 13 de setembro de 2009

Antonio Machado


Era um menino a sonhar
com um cavalo de cartão.
O menino abriu os olhos
e não viu o cavalinho.
Com um cavalinho branco
ele voltou a sonhar;
pelas crinas o prendia...
Assim não te escaparás!
Mal o conseguiu prender,
logo o menino acordou.
Tinha a sua mão fechada.
O cavalinho voou!
O menino ficou sério,
pensando não ser verdade
um cavalinho sonhado.
Já não voltou a sonhar.
E o menino fez-se moço
e o moço teve um amor,
e dizia à sua amada:
Tu és de verdade ou não?
Quando o moço se fez velho
pensava: Tudo é sonhar,
o cavalinho sonhado
e o cavalo de verdade.
E quando chegou a morte,
o velho ao seu coração
perguntava: Tu és sonho?
Quem saberá se acordou!

Um comentário:

  1. Tão Pouco

    Disse tão pouco.
    Dias curtos.

    Dias curtos,
    Noites curtas.
    Anos curtos.

    Disse tão pouco,
    Não tive tempo.

    O meu coração cansou-se
    Do êxtase,
    Do desespero,
    Do zelo,
    Da esperança.

    A boca do Leviatã
    Engolia-me.
    Deitava-me nu, junto ao mar
    Nas ilhas desertas.

    Arrastava-me para o pélago
    A baleia branca do mundo.

    E agora não sei
    O que foi verdade.

    czeslaw milosz

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