terça-feira, 22 de setembro de 2009

Laura Riding




COMO NASCE UM POEMA



A necessidade nos acossa como acusação de impotência:
Você pode ou não falar mais alto,
Provar que está presente?
O que você precisa encontrar para dizer,
Para passar o saber que você existe
À revelia dos crentes ou descrentes
Da nossa espécie em cada um,
Você pode chegar junto ao chegar perto deles
E deixar o assunto de aceitação
Suspenso entre sua oferta
E seu destino com eles no tempo.
(Isto se chama "prosà'!)
Ou você pode convidar ouvintes,
Sem esperar por eles ─
Fazendo do que você acha para dizer
Um testemunho de si, se ausente de ouvintes.
(Assim o poema se constrói:
Para ser entregue numa distância curta.
Mesmo sem platéia, fala.)


A realidade num poema é inextensível.
Abrange a vontade de falar mais alto,
Mas, se presume incluir
A vontade visitante de ouvir o que é dito,
Finge ser uma
Presença além da sua mesma.


o que mais pode ser feito?
Não falamos mais um com o outro?
Pomos palavras no ar e no papel
Que viajam entre nós como se o real,
Sob a proteção do tempo,
Com nem tudo perdido entre uma e outra,
Estas, aquelas e suas outras,
Ou perdidas de uma vez?


Não fosse isto um poema
Eu falaria sobre o falar,
Escreveria sobre o falar (e sobre o escrever),
Que se guardaria para o outro, outros,
Se construiria para todo mundo,
Ou para ninguém, contendo em si sua força viajante,
Sem precisar de uma graça de tempo para resgatá-Io
De uma perda total.
Ou eu falaria, escreveria, assim,
Esforçando-me para construir, quero dizer,
Algo ligando nossos entendimentos
Numa realidade de palavras, de eus, de outros,
Mais dizível, mais penetrável, habitável, aberta.

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