segunda-feira, 29 de março de 2010

e.e.cummings


Moça, já que seu passo
é mais frágil que tudo
que vive, que tudo que respira
na terra e no mar
porque seu corpo é mais novo,

um sonho(hábil que imita e inteiramente que figura
você mesma um sonho hábil e inteiramente em movimento
com dedos, um sonho com pequenos seios empinados
e com pés) me toca

através do dia escassa e timidamente;

enquanto, junto a mim a noite longa e sobre
mim, sempre sinto mover súbita e profundamente
você tão feliz de estar viva-

você arroubo íntimo de coxas quentes
grossas, perfeitamente que me rouba; ou como o mar

que sábio rouba hábil e inteiramente a terra ignorante. 

Um comentário:

  1. http://cristianccss.wordpress.com/2008/02/22/melhores-poesias-de-manoel-de-barros/
    Guardador de Águas
    de “O Guardador de Águas”, Ed. Civilização Brasileira.

    I
    O aparelho de ser inútil estava jogado no chão, quase
    coberto de limos -
    Entram coaxos por ele dentro.
    Crescem jacintos sobre palavras.
    (O rio funciona atrás de um jacinto.)
    Correm águas agradecidas sobre latas…
    O som do novilúnio sobre as latas será plano.
    E o cheiro azul do escaravelho, tátil.
    De pulo em pulo um ente abeira as pedras.
    Tem um cago de ave no chapéu.
    Seria um idiota de estrada?
    Urubus se ajoelham pra ele.
    Luar tem gula de seus trapos.

    II
    Esse é Bernardo. Bernardo da Mata. Apresento.
    Ele faz encurtamento de águas.
    Apanha um pouco de rio com as mãos e espreme nos vidros
    Até que as águas se ajoelhem
    Do tamanho de uma lagarta nos vidros.

    No falar com as águas rás o
    exercitam.
    Tentou encolher o horizonte
    No olho de um inseto – e obteve!
    Prende o silêncio com fivela.
    Até os caranguejos querem ele para chão.
    Viu as formigas carreando na estrada 2 pernas de ocaso
    para dentro de um oco… E deixou.
    Essas formigas pensavam em seu olho.
    É homem percorrido de existências.
    Estão favoráveis a ele os camaleões.
    Espraiado na tarde -
    Como a foz de um rio – Bernardo se inventa…
    Lugarejos cobertos de limo o imitam.
    Passarinhos aveludam seus cantos quando o vêem.

    V
    Eles enverdam jia nas auroras.
    São viventes de ermo. Sujeitos
    Que magnificam moscas – e que oram
    Devante uma procissão de formigas…
    São vezeiros de brenhas e gravanhas.
    São donos de nadifúndios.
    (Nadifúndio é lugar em que nadas
    Lugar em que osso de ovo
    E em que latas com vermes emprenhados na boca.
    Porém.
    O nada destes nadifúndios não alude ao infinito menor
    de ninguém.
    Nem ao Néant de Sartre.
    E nem mesmo ao que dizem os dicionários:

    coisa que não existe.
    O nada destes nadifúndios existe e se escreve com letra
    minúscula.)
    Se trata de um trastal.
    Aqui pardais descascam larvas.
    Vê-se um relógio com o tempo enferrujado dentro.
    E uma concha com olho de osso que chora.
    Aqui, o luar desova…
    Insetos umedecem couros
    E sapos batem palmas compridas…
    Aqui, as palavras se esgarçam de lodo.

    VIII
    Idiotas de estradas gostam de urinar em morrinhos de
    formigas. Apreciam de ver as formigas correndo de
    um canto para o outro, maluquinhas, sem calças, como
    crianças. Dizem eles que estão infantilizando as
    formigas. Pode ser.

    XX
    Com 100 anos de escória uma lata aprende a rezar.
    Com 100 anos de escombros um sapo vira árvore e cresce
    por cima das pedras até dar leite.
    Insetos levam mais de 100 anos para uma folha sê-los.
    Uma pedra de arroio leva mais de 100 anos para ter murmúrios.
    Em seixal de cor seca estrelas pousam despidas.
    Mariposas que pousam em osso de porco preferem melhor
    as cores tortas.
    Com menos de 3 meses mosquitos completam a sua
    eternidade.
    Um ente enfermo de árvore, com menos de 100 anos, perde
    o contorno das folhas.
    Aranha com olho de estame no lodo se despedra.
    Quando chove nos braços da formiga o horizonte diminui.
    Os cardos que vivem nos pedrouços têm a mesma sintaxe
    que os escorpiões de areia.
    A jia, quando chove, tinge de azul o seu coaxo.
    Lagartos empernam as pedras de preferência no inverno.
    O vôo do jaburu é mais encorpado do que o vôo das horas.
    Besouro só entra em amavios se encontra a fêmea dele
    vagando por escórias…
    A 15 metros do arco-íris o sol é cheiroso.
    Caracóis não aplicam saliva em vidros; mas, nos brejos,
    se embutem até o latejo.
    Nas brisas vem sempre um silêncio de garças.
    Mais alto que o escuro é o rumor dos peixes.
    Uma árvore bem gorjeada, com poucos segundos, passa a
    fazer parte dos pássaros que a gorjeiam.
    Quando a rã de cor palha está para ter – ela espicha os
    olhinhos para Deus.
    De cada 20 calangos, enlanguescidos por estrelas, 15 perdem
    o rumo das grotas.
    Todas estas informações têm uma soberba desimportância
    científica – como andar de costas.

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