terça-feira, 22 de junho de 2010

Joseph Conrad






Juventude

Não preciso dizer a vocês o que é estar a balançar num bote desabrigado. Me lembro de noites e dias de calmaria, quando remávamos e remávamos, e o bote parecia ficar tranquilo como que enfeitiçado no círculo do horizonte marítimo. Me lembro do calor, do dilúvio marítimo. Me lembro do calor, do dilúvio que nos obrigava a tirar água com balde para salvar a pele (mas pelo menos enchia o nosso barril), e me lembro das dezesseis horas sem fim, da boca seca como cinza e do remo apoiado na proa, para manter minha atenção voltada para o mar revolto. Não sabia até então que eu era o que se pode chamar de um homem! Lembro os rostos cansados, as figuras abatidas dos meus dois homens, lembro da minha juventude e de um sentimento que nunca mais haverá de voltar – o sentimento de que podia durar para sempre, mais do que o mar, do que a terra, do que todos os homens; o ilusório sentimento que nos atrai para alegrias, para o amor, para o vão esforço – para a morte; a triunfante convicção de força, o calor da vida numa mão cheia de pó, a chama do coração que todo ano diminui, esfria, arrefece e expira – expira muito depressa, depressa demais, antes da própria vida.

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