domingo, 24 de julho de 2011

Peter Berger



Perspectivas Sociológicas

Estamos cercados de trevas por todos os lados enquanto nos precipitamos pelo curto período de vida em direção à morte inevitável. A terrível pergunta 'por quê?', que quase todo homem faz num momento ou outro ao tomar consciência de sua condição, é rapidamente sufocada pelas respostas convencionais da sociedade. A sociedade nos oferece sistemas religiosos e rituais sociais que nos livram de tal exame de consciência. O 'mundo aceito sem discussão', o mundo social que nos diz que tudo está bem, constitui a localização de nossa inautenticidade. Suponhamos um homem que desperte de noite, de um desses pesadelos em que se perde todo o senso de identidade e localização. Mesmo no momento de despertar, a realidade do próprio ser e do próprio mundo parece uma fantasmagoria onírica que poderia desaparecer ou metamorfosear-se a um piscar de olhos. A pessoa jaz na cama numa espécie de paralisia metafísica, tendo consciência de si, mas um passo além daquele aniquilamento que avultara sobre ela no pensamento recém-findo. Durante alguns momentos de consciência dolorosamente clara, pode quase sentir o cheiro da lenta aproximação da morte e, com ela, do nada. E então estende a mão para pegar m cigarro e, como se diz, 'volta à realidade'. A pessoa se lembra de seu nome, endereço, ocupação, bem como dos planos para os dias seguinte. Caminha pela casa, cheia de provas do passado e do presente identidade. Escuta o ruídos da cidade. Talvez desperte a mulher e as crianças, reconfortando-se com seus irritados protestos. Logo acha graça da tolice, vai à geladeira ou ao barzinho da sala, e volta a dormir resolvido a sonhar com a próxima promoção (...) A sociedade nos oferece nomes para nos proteger do nada. Constrói um mundo para vivermos e assim nos protege do caos em que estamos ilhados. Oferece-nos uma linguagem e significados que tornam esse mundo verossímil. E proporciona um coro firme de vozes que confirmam nossas crenças e calam nossas dúvidas latentes (...) As paredes da sociedade são uma autêntica aldeia Potemkin levantada diante do abismo do ser; têm a função de proteger-nos do terror, de organizar para nós um cosmo de significado dentro do qual nossa vida tenha sentido".

2 comentários:

  1. http://www.youtube.com/watch?v=zUHKFzb_ycM&feature=BFa&list=PLC5E7C272F301DE93&index=9

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  2. Amigo, MARAVILHOSO texto.
    De qual livro foi tirado?
    email: marciokadjam@yahoo.com.br


    João Márcio

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