sábado, 28 de setembro de 2013

Rainer Maria Rilke



Sou apenas um de vossos mais humildes monges
fitando da minha cela a vida lá fora,
das pessoas mais distante que das coisas.
...
Não me julgo presunçoso se digo:
Ninguém realmente vive sua vida.
As pessoas são acidentes, vozes, fragmentos,
medos, banalidades, muita alegria miúda,
já crianças, envoltas em dissimulação,
quando adultos, máscaras; como rostos - mudas.

Penso muitas vezes: deve haver tesouros
onde se armazenam todas essas muitas vidas,
como armaduras ou liteiras, berços
que nunca portaram alguém francamente real,
vidas qual roupas vazias que não se sustentam
de pé e, despencando, agarram-se
às sólidas paredes de pedra abobadada.

E quando à noite vagueio
fora do meu jardim, imerso em tédio,
sei que os caminhos todos que se estendem
levam ao arsenal de coisas não vividas

Não há árvore ali, como se a terra se guardasse
e com ao redor da prisão ergue-se o muro,
sem janela alguma, em seu sétuplo anel.
E seus portões, de trancas de ferro,
que repelem os que querem passar,
têm suas grades todas feitas por mãos humanas.

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