terça-feira, 28 de julho de 2009

Mia Couto



Para ti
Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que falhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano

de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só olhar
amando de uma só vida

2 comentários:

  1. esse poema é uma das poucas coisas do Mia Couto que conheço. e mesmo assim, já está entre as preferidas.

    Camilla

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  2. Adoro Mia Couto. Ele é sempre tão sensível e delicado quando escreve... e de uma forma bem peculiar, que me parece muito característica dos grandes escritores da periferia do mundo. Eu adoro. Acho lindo.

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