segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ian McEwan




Na Praia

Quando pensava nela, parecia-lhe surpreendente que tivesse deixado aquela garota com seu violino ir embora. Agora é claro, via que a proposta recatada que ela lhe fizera era totalmente irrelevante. Tudo aquilo que ela precisava era da certeza do amor dele, e da sua garantia de que não havia pressa, pois tinham a vida pela frente. Amor e paciência - se ao menos ele tivesse conhecido ambos ao mesmo tempo - certamente os teriam ajudado a vencer as dificuldades. E que dizer das crianças que poderiam ter tido, e da menininha com um arco no cabelo que poderia ter se tornado sua filha querida? É assim que todo o curso de uma longa vida pode ser desviado - por não se fazer nada. Na praia de Chesil, ele poderia ter gritado o nome de Florence, poderia ter ido atrás dela. Ele não sabia, ou teria querido não saber, que, enquanto ela fugia, certa na sua dor de que o estava perdendo, nunca o amara tanto, ou mais desesperadamente, e que o som da voz dele teria sido seu resgate, e que ela teria voltado atrás. Em vez disso, ele permaneceu num silêncio frio e honrado, na penumbra do verão, a observá-la em sua precipitação ao longo da orla, o som do seu avanço difícil perdendo-se entre o das pequenas ondas a quebrar na praia, até ela ser apenas um ponto borrado, desaparecendo na estrada estreita e infinita de seixos brilhando sobre a luz pálida.

4 comentários:

  1. A noite me pinga uma estrelano olho e passa.PL

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  2. 'era um homem triste, com uma lágrima eterna a brilhar na ponta do nariz...'

    Joseph Conrad

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  3. http://www.youtube.com/watch?v=ht-YVd9MTYE

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