domingo, 6 de junho de 2010

Czeslaw Milosz






Cris

Em abril de 1996 a imprensa internacional noticiou a morte  aos 75 anos de idade de Christopher Robin Milne, eternizado no livro de seu pai, A.A. Milne, O Ursinho Puff, como Cris.

       Eu, o Ursinho Puff, preciso de repente pensar em coisas muito difíceis pra minha pequena cabecinha. Nunca me importei com o que está lá fora do nosso jardim, onde morávamos eu, o porquinho Leitão, o coelho Abel e o burrinho Bisonho com nosso amigo Cris. Quer dizer, nós ainda moramos aqui e nada mudou e agorinha mesmo comi um pote de mel – o Cris só foi ali e já volta.
      A Coruja diz que lá fora do nosso jardim começa o Tempo, e isso é um poço assim fundo pra caramba, e quando uma pessoa cai nele vai sumindo e sumindo lá pra baixo, até que ninguém sabe o que acontece com ela depois. Fiquei um pouco preocupado com o Cris, se não tinha caído lá dentro, mas ele voltou e aí eu perguntei sobre o tal poço. “Puff – ele disse – eu estava dentro dele e fui caindo, e caindo eu ia mudando, minhas pernas foram ficando compridas, fiquei grande, usava umas calças que iam até o chão e me cresceu barba, depois meus cabelos foram ficando brancos, fui me encurvando, andei de bengala e aí morri.
     Com certeza, foi tudo só um sonho, porque não parecia bem de verdade. De verdade pra mim sempre foi só você, Puff, e as nossas brincadeiras. Agora já não saio daqui pra lugar nenhum, mesmo se me chamarem pro lanche."

Um comentário: