domingo, 29 de agosto de 2010

jorge luis borges

ensaio autobiográfico

Em minha idade, deve-se ter consciência dos próprios limites, pois esse conhecimento talvez possa levar à felicidade. Quando era jovem, pensava que a literatura era um jogo de variações engenhosas e surpreendentes. Agora que encontrei minha própria voz, parece-me que o fato de retocar e voltar a corrigir meus rascunhos não os melhora muito nem os prejudica. Isso, naturalmente, é um pecado contra uma das principais tendências da literatura desse século - a vaidade de reescrever -, que levou um homem como Joyce a publicar desconexos fragmentos, ostentosamente intitulados Work in progress [ Obra em curso]. 
Suponho que já escrevi meus melhores livros. Isso me dá uma espécie de tranquila satisfação e serenidade. No entanto, não acho que tenha escrito tudo. De algum modo, sinto a juventude mais próxima de mim hoje do que quando era um homem jovem. Não considero mais a felicidade inatingível, como eu acreditava tempos atrás. Agora sei que pode acontecer a qualquer momento, mas nunca se deve procurá-la. Quanto ao fracasso e a fama, parecem-me totalmente irrelevantes e não me preocupam. Agora o que procuro é a paz, o prazer do pensamento e da amizade. E, ainda que pareça demasiado ambicioso, a sensação de amar e ser amado.

7 comentários:

  1. "[...]Nas páginas d'O Fazedor' não há nenhum recheio. Cada texto foi escrito por si mesmo, em resposta a uma necessidade interna. Ao prepará-lo, já havia compreendido que escrever de modo grandiloquente não só é um erro, como um erro que nasce da vaidade. Para escrever bem - acredito com firmesa -, é preciso ser discreto.

    j.l.borges - ensaio autobiográfico

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  2. as pessoas são mais que palavras. Asssim, calo-me.

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  3. nenhuma palavra alcança o mundo, eu sei.
    ainda assim, escrevo.

    mia couto

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  4. eu gosto dessa confissão:

    "não criei personagens. tudo o que escrevo é autobiográfico. porém, não expresso minhas emoções diretamente, mas por meio de fábulas e símbolos. nunca fiz confissões. mas cada página que escrevi teve origem em minha emoção."
    (j.l.borges)

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  5. e ainda assim não me conto.

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  6. 'Tenho a barba espessa, os olhos velados
    Pelas pálpebras, como nos que sabem o preço
    Das coisas que viram. Me calo como convém
    A um homem ciente de que no coração humano
    Cabe mais do que na fala.'

    Czeslaw Milosz

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  7. more than words no mundo das significações.

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