sábado, 30 de julho de 2011

Rainer Maria Rilke





Cartas sobre Cézanne

... nunca a urze me tocou tanto, a ponto de comover-me, como recentemente, ao achar estes três ramos em sua amável carta. Desde então eles se encontram no meu Livro de Imagens, penetrando-o com seu cheiro forte e sóbrio, que no fundo nada mais é do que o perfume da terra no outono. [...]

Acredito que os pequenos ramos não podiam ser tão belos quando foram enviados: senão você teria demonstrado seu espanto. Por acaso, um se encontra agora sobre o veludo azul-escuro de um velho escrínio. É como um fogo-de-artifício: não, é mesmo como um tapete persa. Será que todas estas milhões de hastes são trabalhadas de modo tão primoroso? Veja o matiz do verde, no qual há um pouco de ouro, e o marrom morno dos sândalos nos pequenos talos, e a ruptura com seu tom interno quase verde, novo, fresco. -Ah, há dias admiro o esplendor destes três pequenos fragmentos e envergonho-me bastante de não ter sido feliz quando podia passear no meio de tudo isto, de tal abundância. Vivemos tão mal porque chegamos sempre inacabados ao presente, incapazes e dispersos em tudo.

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