sexta-feira, 25 de maio de 2012

Schopenhauer



Sobre o ofício de escritor

Obscuridade e indistinção na expressão é, em toda parte e sempre, um sinal muito grave. Pois, de cem casos, em noventa e nove elas derivam da falta de clareza do pensamento, que por sua vez procede quase sempre de sua desproporção original, da sua inconsistência e, por tanto, de sua inexatidão. Quando um pensamento correto eleva-se à mente sua meta é alcançar sua expressão adequada. O que um homem é capaz de pensar também pode ser expresso sempre em palavras claras, compreensíveis e inequívocas. [...]

Nua, a verdade é belíssima, e a impressão que causa é tanto mais profunda quanto mais simples é sua expressão; em parte porque, nesse caso, ela ocupa sem dificuldades toda a alma do ouvinte, que não é distraído por nenhum pensamento secundário; em parte, porque ele sente que não foi corrompido ou iludido por nenhum artifício retórico, e que o efeito inteiro advém do assunto em si. [...]

A ausência de espírito assume todas as formas para se esconder: encobre-se com o estilo empolado, com o bombástico, com o tom de superioridade e de fidalguia e com centenas de outras formas; somente pela ingenuidade  não se deixa atrair, pois, nesse caso, ficaria imediatamente despida e não poderia oferecer ao mercado nada além de uma mera simploriedade. Mesmo à boa cabeça não é permitido ser ingênuo, já que pareceria seca e magra. Eis a razão de a ingenuidade continuar a ser a veste de honra do gênio, assim como a nudez é a da beleza.


Nenhum comentário:

Postar um comentário