domingo, 1 de dezembro de 2013

Georges Bataille

História do Olho (II)


          Um deslumbramento interior me esgotava e não sei o que teria acontecido se, de repente, Simone não tivesse se movido ligeiramente; abriu as coxas, abriu-as tanto quanto podia e me disse, em voz baixa, que não conseguia mais se conter; inundou o vestido, com um estremecimento; no mesmo instante, a porta jorrou nas minhas calças.
          Deitei-me então na grama, o crânio apoiado numa pedra lisa e os olhos abertos sobre a Via Láctea, estranho rombo de esperma astral e de urina celeste cravado na caixa craniana das constelações; aquela fenda aberta no topo do céu, aparentemente formada por vapores de amoníaco brilhando na imensidão - no espaço vazio onde se dilaceram como um grito de galo em pleno silêncio - refletia no ininito as imagnes simétricas de um ovo, de um olho furado ou do meu crânio deslumbrado, aderido à pedra. Repugnante, absurdo grito do galo coincidia com a minha vida: quer dizer, nesse momento eu era o Cardeal, devido à fenda, à cor vermelha, aos gritos dissonantes que me provocara dentro do armário e, também, porque os galos são degolado...


Para outros, o universo parece honesto. Parece honesto para as pessoas de bem porque elas têm os olhos castrados. É por isso que temem a obscenidade. Não sentem nenhuma angústia ao ouvir o grito do galo ou ao descobrirem o céu estrelado. Em geral, apreciam "os prazeres da carne", na condição de que sejam insossos.
          Mas desde então, não havia mais dúvidas: eu não gostava daquilo a que se chama "os prazeres da carne", justamente por serem insossos. Gostava de tudo o que era tido por "sujo". Não ficava satisfeito, muito pelo contrário, com a devassidão habitual, porque ela contamina a devassidão e, afinal de contas, deixa intacta uma essência elevada e perfeitamente pura. A devassidão que eu conheço não suja apenas meu corpo e os meus pensamentos, mas tudo o que imagino em sua presença e, sobretudo, o universo estrelado...

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