segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Robert L. Leahy


Detecte o perigo, transforme o perigo em catástrofe, controle a situação, evite ou escape.

Uma maneira muito comum de se tentar evitar a ansiedade talvez seja evitar a situação como um todo. A crença subjacente é a de que os riscos podem ser eliminados pela recusa de enfrenta-los. A segurança reside da manutenção da ilusão de segurança. [...] Uma consequência dessa regra é a paralisia. Temos medo de andar de avião, por isso nunca fazemos aquela visita importante a alguns familiares. Temos medo de não sermos aceitos para o trabalho que desejamos, por isso nunca nos candidatamos a ele. Alguém com quem não nos damos bem mora em uma rua próxima e, por isso, sempre evitamos passar por ela, mesmo que tenhamos que fazer um caminho mais longo. Quando nossa convicção subjacente é a de que não podemos lidar com qualquer desconforto, nossa vida fica cercada por todas as espécies de limitações, que nos mantém imóveis, passivos e escondidos.

Uma manifestação comum da paralisia que nos acomete é a indecisão. Com frequência, nos recusamos a agir até que tenhamos o que consideramos ser informações suficientes – que, de alguma forma, nunca conseguimos obter. O medo de tomar a decisão “errada” (que em circunstâncias primitivas poderiam significar a morte súbita e violenta) nos impede de tomar qualquer decisão. Quando estamos ansiosos, tentamos evitar completamente os riscos. Acreditamos que o mundo é perigoso, que não seremos capazes de enfrentar as consequências e precisamos de certeza absoluta. E quando estamos ansiosos, acreditamos que se algo não for bem nos arrependeremos para sempre. Imaginamos que nos arrependeremos dos resultados e diremos a nós mesmos: “Bem que eu te avisei!”.

Nossa ansiedade leva a procrastinação. Nosso cérebro primitivo nos diz que não devemos fazer nada até que saibamos que é seguro, até que não mais tenhamos medo. A mensagem persiste, e por isso acreditamos que é importante não agir até que estejamos prontos. Enquanto nos sentirmos ansiosos em relação a uma situação, a adiaremos – seja tal situação declarar o imposto de renda, trabalhar em um projeto que não temos certeza de que controlaremos, ter um conversa sobre um assunto delicado com alguém ou ir ao dentista.  Subjacente a isso está a crença de que as penosas consequências da ação decisiva são maiores do que não fazer nada; de que o caminho “mais seguro” é o de esperar até que a ansiedade vá embora. De todas as nossas ilusões, essa é a que aparece com maior frequência.

E se for tarde demais para evitar uma situação? E se já estivermos imersos nela? Obviamente, a estratégia é a de escapar o mais cedo possível. Novamente, a ligação com as urgências primitivas é clara: retirar-se rapidamente da situação quase sempre foi uma questão de sobrevivência. Nos dias de hoje buscamos uma saída. Atravessamos a rua para escapar de um bando de estranhos. Ligamos para nosso trabalho avisando que estamos doentes no dia de um exame importante. Não enfrentar uma fonte de perigo é um instinto tão profundo e poderoso que muitas vezes supera todas as outras considerações. É claro que quando obedecemos à urgência deixamos de aprender uma lição importante, que é a de que nós de fato temos capacidade de aprender a lidar com as dificuldades. Quando buscamos escapar de tais situações, contudo, jamais levamos esse fator em consideração.


Ao codificar essas “regras” de ansiedade, obviamente simplifiquei muito. Na prática, há muitas sobreposições entre elas, isso para não mencionar muitas situações que elas se misturam com impulsos do senso comum. Contudo, conhecemos todas essas regras, sejamos classificados como pessoas que sofrem de ansiedade ou não. Isso ocorre porque os padrões de pensamento e comportamento que elas representam foram inextricavelmente implantados em nossa psicologia, como espécie. Nossos instintos de proteção – a verdadeira origem dessas regras – não são diferentes do que eram há milhões de anos: Detecte o perigo, transforme o perigo em catástrofe, controle a situação, evite ou escape. A julgar por nosso sucesso como espécie, essas regras provaram ser eficazes durante milhões de anos de pré-história. Todavia, se nós ainda as seguimos cegamente nos dias de hoje – em que os animais selvagens, as tribos hostis, as doenças e a desnutrição não são mais as principais ameaças –, não estamos mais levando em conta nossa sobrevivência. Estamos fazendo exatamente o contrário: tornando-nos confusos, disfuncionais, paralisados e incapazes de um pensamento ou de uma ação eficaz. Estamos usando as regras certas no momento errado. Na verdade, obedecer a essas regras hoje talvez seja a melhor maneira de desenvolver o que a sociedade chama de transtorno de ansiedade. 

Fotografia: James Nachtwey

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