quarta-feira, 7 de abril de 2010

Mia Couto




Saudades


Magoa-me a saudade
do sobressalto dos corpos
ferindo-se de ternura
sói-me a distante lembrança
do teu vestido
caindo aos nossos pés

Magoa-me a saudade
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se
nas pupilas desatentas


Seja eu de novo a tua sombra, teu desejo,
tua noite sem remédio
tua virtude, tua carência
eu
que longe de ti sou fraco
eu
que já fui água, seiva vegetal
sou agora raiz trêmula, raiz exposta


Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do peito
e espanta na gruta funda de mim
os animais que atormentam o meu sono

4 comentários:

  1. até mesmo um pé de nabo tem alguma coisa boa.

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  2. saudades, diferente desta, mas saudades d vc. xero. di

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  3. p c n dizer q marcamos coisas e n te convidamos: http://www.bienaldolivro.ce.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=23&Itemid=15 - vamu sábado? eu, vc , su, ed, uma prima minha e tal? xerão di

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  4. Pouco a pouco o passado foi se esbatendo, a saudade diminuindo; ela ainda vinha em certas tardes silenciosas, ao crepúsculo, quando o adeus do sol iluminava a parede do quarto solitário, e o chamado distante e monótono do cuco, cessando de repente, ampliava o silêncio;- então chegava de repente uma saudade que invadia tudo, que penetrava o coração; mas ela não o afligia mais, ela vinha tão suave, tão de leve, que era até meio doce de sentir, como uma dor amortecida.
    [...]
    E assim, Niels vai crescendo: sua alma sofre as influências mais diversas, tudo tem significação para ele, o que existe realmente, o que ele sonha, o que sabe e o que advinha, tudo deixa naquela argila mole um traço que mais tarde se tornará acentuado e profundo - ou fraco e apagado.

    j.P.Jacobsen - Niels Lyhne

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