domingo, 29 de abril de 2018

Gavin Francis


Da cabeça aos pés
Histórias do corpo humano

2 – Olho: o renascimento da visão

   De todas as coisas que me aconteceram, acho que a menos importante foi ter sido cego.

James Joyce, tal como citado por J.L. Borges


Se você estiver sentado lendo este livro à luz solar, os fótons que chegam à sua retina nasceram há apenas oito minutos e meio, por meio de fusão no núcleo do Sol. Há cinco minutos eles passaram como um raio pela órbita de Mercúrio, há dois minutos deixaram Vênus para trás. Os que não foram interceptados pela Terra passarão pela órbita de Marte daqui a cerca de quatro minutos, e pela de Saturno dentro de pouco mais de uma hora. Depois dessa viagem através do espaço, num tempo imutável (porque, como Einstein compreendeu, por se mover à velocidade da luz, o tempo é imobilizado), a luz branca do Sol envolve o mundo à nossa volta e se fragmenta numa dispersão multicolorida. Essa dispersão é afunilada pela córnea e o cristalino do olho antes de tombar na rede de segurança da retina. A energia desse impacto faz com que proteínas dentro da rede se curvem, iniciando uma reação em cadeia, a qual, se proteínas suficientes se torcerem, leva à excitação de um único nervo da retina e à percepção de uma única centelha de luz.

Podemos saborear o que está em nossas bocas, tocar o que está ao nosso alcance, sentir cheiros a centenas de metros e ouvir coisas a dezenas de quilômetros. Mas é somente através da visão que estamos em comunicação com o Sol e as estrelas. 
Fotografia: Martin Chambi

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