sexta-feira, 6 de abril de 2018

Robert L. Leahy


Livre de Ansiedade
Robert L. Leahy

7 – Transtorno de ansiedade generalizada

Muitos de nossos medos mais profundos são respostas evolutivas a tais perigos. Mas havia outros tipos de perigo - de maior alcance, voltados ao futuro: a escassez de alimentos em certas estações; a possibilidade de ataques de animais, não no momento, mas a horas ou dias de "distância". À medida que a humanidade evoluiu, detectar e responder a esses tipos de perigo se tornou cada vez mais importante. Foi útil estudar os padrões do movimento dos animais, tanto para nos protegermos dos predadores quanto para garantir um estoque de caça. Foi importante saber que tipo de clima esperar em determinadas estações, a fim de colher e plantar de maneira eficiente. Armazenar combustível ou alimentos, construir abrigos, fazer ferramentas ou roupas para uso futuro - tudo isso exigiu planejamento, o que, por sua vez, implicava pensar sobre o futuro - tudo isso exigiu planejamento, o que, por sua vez, implicava pensar sobre o futuro. E é isso exatamente o que as pessoas com Transtorno de ansiedade generalizada tendem a fazer em excesso. Estão sempre pensando à frente, tentando antever o que pode dar errado, o que pode ser ameaça. Esse instinto indubitavelmente manteve muitos de nossos ancestrais vivos e capacitou a raça humana à sobrevivência.

Se não fosse a capacidade de se preocupar, seria improvável que nossos ancestrais primitivos fossem capazes de cultivar a terra. Imagine se você tivesse que plantar e não planejar o futuro, não ter sementes, não arar a terra, não irrigar a terra quando possível. Ou imagine se seus ancestrais nunca guardassem nada, se tivessem de viver apenas com o estritamente necessário. É a capacidade de se preocupar - de planejar, de pensar à frente e de tomar decisões antes de algo terrível acontecer - que permitiu que nossos a nossos ancestrais avançar. A civilização se construiu, parcialmente, a partir dessa capacidade. É por isso que geralmente penso nas pessoas conscienciosas.

Nesse contexto, é claro, a preocupação tem muito sentido. A pessoa que se preocupa, mesmo que de maneira ineficaz, está simplesmente tentando antever e evitar o perigo. Mas, nesses caso, o perigo não está caindo de uma árvore ou surgindo na figura de um crocodilo faminto. Trata-se mais do futuro: como você vai enfrentar a fome? Quais são as consequências sociais de cometer um erro? O que você precisará ter com você se for migrar? Todas as habilidades e competências têm a ver com ser capaz de usar a imaginação. Para certos tipos de pessoas, imaginar um problema indica que de fato há um problema que precisa ser enfrentado. Preocupar-se é simplesmente se preparar para o prior; é a única maneira de evitar todas as coisas terríveis que poderiam acontecer. Preocupar-se era uma estratégia para evitar a catástrofe.

É claro que sabemos que em nossas vidas hoje esse estado de espírito não é em geral eficaz, mas sim paralisante. Isso ocorre porque essa é uma maneira fraca e irreal de lidar com o gerenciamento do risco. Preocupar-se, afinal de contas, é algo que realmente diz respeito ao risco - é uma ferramenta para detectá-lo e administrá-lo. Todavia, sua capacidade de avaliar riscos de maneira acurada está prejudicada, seus instintos de precaução não terão muita utilidade. Você superestimará alguns riscos, e provavelmente não perceberá outros. Se você tratar todos os riscos igualmente, provavelmente acabará se trancando no porão usando um traje de borracha para se proteger da radiação. Ou, em caso menos extremo - preocupando-se todo o tempo a respeito de tudo. Você terá uma sobrecarga de riscos e será incapaz de lidar com qualquer coisa de maneira eficaz.

Da perspectiva da psicologia evolutiva, então, uma mente que se preocupa tem sentido; mesmo que o contexto tenha mudado significativamente desde a época dos caçadores-coletores. Mas, porque algumas pessoas têm maior dificuldade em avaliar riscos de maneira precisa? Não sabemos todas as respostas. Porém, sabemos que há uma certa predisposição genética ao transtorno - de acordo com um estudo, um número equivalente a 38% de casos. Isso não quer dizer que você está condenado a ser uma pessoa preocupada de maneira crônica. Há sempre maneiras de alterar sua perspectiva de modo que sua preocupação não exerça controle sobre sua vida. Mas se você tem uma tendência já arraigada a se preocupar - especialmente se você sempre foi mais ou menos assim - as chances são as de que você nasceu com uma certa predisposição. É bom reconhecer isso, porque, quanto mais claramente você enxergar isso, mais capaz será de lidar com o problema.

Há outros fatores também, sendo o histórico familiar um dos principais. Se seus pais se divorciaram quando você era jovem, sua chance de desenvolver TAG é aproximadamente 70% maior. Isso provavelmente ajuda a explicar por que muitas pessoas que se preocupam tendem a ter obsessões com a possibilidade de um relacionamento acabar, de perder a casa, de insegurança financeira. Se seus pais eram "superprotetores", você terá maior probabilidade de desenvolver o TAG. [...] Acontecimentos recentes podem também agravar a tendência para o TAG. Rompimentos ou problemas de grande monta (divórcios, doenças repentinas, um rompimento com o parceiro) podem desencadear estes sintomas: insônia, tensão, irritabilidade e problemas estomacais, mesmo nas pessoas com históricos anteriores de ansiedade.


Na maior parte dos casos de TAG, possivelmente há uma combinação desses fatores. Você pode ter herdado uma tendência à preocupação, mas também tem tido experiências que a exacerbam. Pode ter tido pais que foram superprotetores ou que projetavam suas preocupações na família. Pode ter experimentado um ou vários traumas quando criança, o que pode ter aumentado suas sensações de insegurança. À medida que você amadureceu e assumiu maiores responsabilidades, pode ter percebido que a conscientização acerca das coisas passou a ser preocupação intensa; uma sensação de responsabilidade levada a extremos. É interessante que cerca de metade das pessoas que se preocupa de maneira crônica começa a ter esse perfil durante a infância ou a adolescência, ao passo que a outra metade começa a se preocupar na idade adulta.



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