quarta-feira, 12 de junho de 2013

Ian McEwan

Amor sem fim (2)

Eles estão de volta ao quarto. Ela se pergunta se foi longe demais. Mas lá está, prematuramente fora da banheira, procurando pelas roupas de baixo, enquanto a dor na parte de baixo da coluna continua a se espalhar. Eles raramente brigam. Ela, em especial, não é boa em matéria de discussão. Nunca foi capaz de aceitar as regras de combate que lhe permitem ou exigem dizer coisas em que não acredita ou que são distorções da verdade, quando não mentiras puras. Não pode escapar à sensação de que cada tirada hostil mais a afasta não apenas do amor de Joe, mas de todo o amor que ela sentiu na vida - fazendo-a pensar que, com isso, vem à tona uma maldade que genuinamente corresponde ao mais profundo de seu ser.

Joe tem outro tipo de problema. Para começar, a raiva nele leva tempo para se manifestar, e, mesmo quando isso acontece, sua inteligencia não o ajuda, ele esquece o que devia dizer e não é capaz de marcar pontos na discussão. E não consegue vencer o hábito de responder uma acusação com uma resposta racional e pormenorizada, em vez de contra-atacar com outra acusação. Não é difícil desnorteá-lo, com uma súbita irrelevância. A irritação bloqueia a compreensão de seu próprio caso, e só depois, quando ele se acalma, é que lhe vem à mente uma defesa bem articulada. Além disso, é especialmente difícil ser duro com Clarissa, porque ela se fere com muita facilidade. Palavras raivosas deixam uma marca imediata em seu rosto.

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