quinta-feira, 7 de junho de 2018

Mariano Sigman



Crer, saber e confiar

Ao tomar uma decisão, além de executar a opção escolhida, o cérebro gera uma crença. É o que percebemos como confiança ou convicção quanto ao que fazemos.  [...] Como se constrói a confiança? Por que algumas pessoas sentem um excesso permanente de confiança, façam o que fizerem, e outras, ao contrário, vivem na dúvida?

O estudo científico a confiança – ou o da dúvida – é particularmente sedutor porque abre uma janela para subjetividade: já não é o estudo de nossos atos observáveis, mas de nossas crenças privadas. Sob uma perspectiva meramente pragmática, tampouco é um assunto menor, pois estarmos seguros ou não de nossas ações define nosso modo de ser.

Vícios e rastros da confiança

A forma pela qual cada pessoa constrói a confiança é quase como uma impressão digital. Alguns distribuem a confiança com matizes intermediários; outros, ao contrário, tendem a expressá-la em estados extremos de dúvida ou convicção.

Alguém com um sistema preciso de confiança julgar bem seu próprio conhecimento e sabe quando apostar e quando não. A confiança é, então, uma janela para o próprio conhecimento. [...] A precisão do sistema de confiança é um traço pessoal, quase como uma estrutura ou a cor dos olhos. Mas, à diferença desses traços físicos, há um certo espaço para modificar esse rastro do pensamento. E, como se poderia esperar de um traço característico da identidade – e que de certo modo a define –, ele tem uma assinatura na estrutura anatômica do cérebro. 0s que possuem sistemas de confiança mais precisos têm maior quantidade de conexões.

Essa diferença na atividade cerebral entre os que têm um sistema preciso de confiança e os que não o têm só se observa quando uma pessoa dirige a atenção para seu mundo interior – por exemplo, concentrando-se na respiração –, e não quando a atenção está focalizada no mundo exterior. Isso estabelece uma ponte entre duas variáveis que em princípio quase não estavam relacionadas: a qualidade da confiança e o conhecimento de nosso próprio corpo. Ambas coincidem em dirigir o olhar para o mundo interior. E, assim, sugere-se que uma maneira natural de melhorar o sistema de confiança é aprender a observar e focalizar nosso próprio corpo.




Fotografia: Justyna Mielnikiewicz

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