segunda-feira, 25 de junho de 2018

Steven Pinker



O mundo tem se tornado pior ou melhor?

Nascemos em um mundo impiedoso, encarando chances adversas contra a ordem da vida e em risco constante de desmoronar. Fomos moldados por um processo cruelmente competitivo. Somos feitos de vigas tortas, vulneráveis à ilusão, centrados em nós mesmos, e, às vezes, de uma estupidez impressionante.

Ainda assim a natureza humana tem sido abençoada por recursos que abrem espaço para uma espécie de redenção. Somos dotados do poder de combinar ideias recursivamente, de pensar sobre nossos pensamentos. Temos o instinto da linguagem, que nos permite compartilhar os frutos de nossa ingenuidade e experiência. Somos aprofundados pela capacidade de ter simpatia, pena, imaginação, compaixão, comiseração. Esses talentos encontraram formas de intensificar seu próprio poder. O escopo da linguagem foi ampliado pela palavra escrita, impressa e digital. Nosso círculo de simpatia tem se expandido pela história, jornalismo e narrativas visuais. E nossas débeis capacidades foram multiplicadas pelas normas e instituições da razão, curiosidade intelectual, debate aberto, ceticismo da autoridade e dogma e pelo ônus da prova para verificar ideias confrontando-as com a realidade.

À medida que a espiral da melhoria recursiva ganha ímpeto, nós colecionamos vitórias contra as forças que nos desencorajam, notadamente as partes mais obscuras da nossa natureza. Penetramos os mistérios do cosmos, inclusive a vida e a mente. Vivemos mais, sofremos menos, aprendemos mais, nos tornamos mais inteligentes e desfrutamos mais de pequenos prazeres e experiências enriquecedoras. Poucos de nós são mortos, assaltados, escravizados, explorados ou oprimidos por outros. A partir de poucos oásis, crescem os territórios com paz e prosperidade e um dia podem abarcar o mundo. Restam muito sofrimento e perigos enormes mas foram enunciadas ideias sobre como reduzi-los, e ainda existem infinitas outras para serem concebidas.

Nunca teremos um mundo perfeito, e seria perigoso buscar um. Mas não há limite para as melhorias que podemos alcançar se continuarmos a aplicar o conhecimento para aprimorar o crescimento humano. Essa história heroica não é só mais um mito. Mitos são ficção, mas essa é verdadeira. Verdadeira até onde sabemos, que é a única verdade que podemos ter. Conforme aprendemos mais, podemos mostrar quais partes da história permanecem verdadeiras e quais são falsas, segundo qualquer uma delas pode ser e qualquer uma pode se tornar.

E essa história não pertence a qualquer tribo, mas a toda a humanidade, a qualquer criatura consciente, com o poder da razão e o desejo de persistir em seu ser, pois requer apenas a convicção de que a vida é melhor que a morte, a saúde é melhor que a doença, a abundância é melhor que a necessidade, a liberdade é melhor que a coerção, a felicidade é melhor que o sofrimento e o conhecimento é melhor que a ignorância e a superstição.


Fotografia: Henri Cartier-Bresson


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