sexta-feira, 22 de junho de 2018

Robert L. Leahy



O que a evolução pode ensinar sobre a ansiedade?

Por que somos tão ansiosos? Como os nossos medos irracionais se encaixam no quadro evolutivo? Por que não conseguimos nos desligar à noite e não dormimos bem? Por que nos preocupamos com coisas sobre as quais não podemos fazer nada a respeito, pensamos sobre erros passados, ficamos obcecados com o que as outras pessoas pensam de nós, estabelecemos padrões – para nós mesmos – que nos entristecem, criamos cenários futuros terríveis a partir do nada, paralisamo-nos por causa de nossos próprios medos de modo que não conseguimos pensar ou agir com eficácia? Por que nossas vidas pessoais são, com tanta frequência, uma bagunça, mesmo quando nossa eficiência, como espécie, nos dá um predomínio sem precedentes sobre a natureza? [...]

A ansiedade foi umas principais ferramentas para a sobrevivência. Foi simplesmente a maneira de a natureza instilar a prudência em nós. [...] Embora a linguagem tenha nos dado ferramentas, as emoções eram ainda a força motriz do comportamento humano. E a ansiedade foi uma das principais emoções. [...] Em geral, muitos dos transtornos de ansiedade que experimentamos hoje têm sua origem nos medos programados em nós por nossa história evolutiva. [...] A evolução, portanto, tende a favorecer a precaução: ela quer que sejamos supercuidadosos, constantemente alertas ao perigo. Ela nos ensina a não deixarmos de ser vigilantes só porque um perigo que imaginamos não veio a se concretizar.

Isso é fundamental para nossa compreensão da ansiedade. O que nós pensamos ser um “transtorno” de ansiedade – um peculiar desvio da norma – não é uma aberração mas simplesmente o resultado natural de nossa história evolutiva. A evolução “instalou”, para isso, um software em nosso cérebro, como um mecanismo de sobrevivência. O problema não está em nós, mas na vida que levamos – no fato de ela ter mudado muito drasticamente em relação à vida que levávamos na savana ou na floresta. Ironicamente, o problema é que nosso ambiente é mais seguro agora, e nossos medos são, então, desnecessários. Eles não nos protegem tanto quanto inibem nossa fruição da vida. É o medo certo no momento errado. O que era perigoso antigamente pode não ser hoje, ao passo que um comportamento antes inconsequente pode hoje ser seriamente prejudicial à nossa capacidade de funcionar em nossas vidas econômicas, sociais e pessoais. Os padrões que nos protegiam na vida selvagem não mais têm sentido no mercado de trabalho, em casa ou no bairro. O que se pede a nós é que modifiquemos nossos instintos primitivos de modo adequado à nossa realidade de hoje.

Isso é possível? Por meio do exame de algumas maneiras pelas quais a ansiedade limita e controla nossas vidas possamos chegar a uma melhor compreensão de como lidar com ela. Ao conquistarmos a consciência de como o medo opera em nossas vidas começamos a afrouxar a pressão sobre nós. Começamos a trabalhar com nosso medo de uma maneira produtiva, que tira vantagem de nossa capacidade de aprender, de nos adaptar a novas circunstâncias. [...] Há uma coerência subjacente ao processo pelo qual o medo se torna um fator preponderante. Da mesma maneira, há uma coerência subjacente ao processo pelo qual podemos neutralizar esse medo.

Nossas mentes são como filtros pelos quais vemos a realidade. Elas foram programadas por nossa história evolutiva e por nosso condicionamento de toda uma vida para enviar-nos mensagens constantes, não raro irracionais, sobre a natureza dessa realidade, e também instruções sobre como responder. Quando experimentamos a ansiedade, a mensagem é que nada é seguro. As instruções que acompanham a mensagem dizem que há algo fundamental que devemos fazer (ou não fazer) para ficarmos seguros. Mas, e se nada disso for verdadeiro? E se a mensagem for falsa e as instruções contraproducentes? Afinal de contas, a mensagem é simplesmente uma mensagem – não precisamos acreditar nela. Ao colocarmos em questão a mensagem do medo, ao questionarmos sua verdade, ao colocarmos tal mensagem à luz da experiência, enfraquecemos seu poder de controlar nossos pensamentos e nosso comportamento. Abrimo-nos, então, para verdadeiro potencial e para nossa verdadeira liberdade.     


Fotografia: James Natchwey

Nenhum comentário:

Postar um comentário