sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Arnold Hauser




Os tempos pré-históricos - O artista como mágico e sacerdote; a arte como profissão e ofício doméstico 


Os criadores dos desenhos paleolíticos de animais eram, ao que tudo leva a crer, caçadores "profissionais" - pode-se presumir isso com certeza quase absoluta a partir do seu conhecimento íntimo dos animais - e é improvável que, como "artistas" (ou como quer que fossem chamados), estivessem isentos da obrigação de prover alimentos. Entretanto, certos indícios indicam definitivamente que já tinha ocorrido alguma diferenciação vocacional - embora talvez apenas nesse campo particular. [...] O artista-mago, portanto, parece ter sido o primeiro representante da especialização e da divisão de trabalho. 

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Com a separação da arte em sagrada e profana, a atividade artística do período neolítico passou para as mãos de dois diferentes grupos. As tarefas da arte sepulcral e da escultura de ídolos, assim como a execução de danças rituais tornaram-se agora a arte dominante na era do animismo, eram atribuídas, com toda probabilidade, exclusivamente a homens, sobretudo mágicos e sacerdotes. Por outro lado, a arte profana, agora restrita à categoria de ofício e destinada a solucionar problemas meramente decorativos, talvez tenha ficado nas mãos das mulheres e pode ter formado parte de sua atividade doméstica. 

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A absorção parcial da arte pela indústria doméstica e pelas tarefas domésticas da mulher, ou seja, a fusão da atividade artística com outras atividades, significa um retrocesso do ponto de vista da divisão do trabalho e da diferenciação profissional. Pois a divisão funcional agora ocorre, quando muito, entre sexos, mas não entre classes profissionais. Portanto, embora as civilizações agrárias promovam a especialização de um modo geral, também é verdade que, por algum tempo, põem fim à classe dos artistas profissionais. E essa mudança é tanto mais completa porque, de fato, não apenas aqueles ramos da atividade artística exercida pelas mulheres mas também os praticados pelo homem passaram agora a ser atividades subsidiárias. [...] É difícil dizer se o fim da classe artística independente constitui uma das razões para a simplificação e esquematização de formas artísticas ou se é o resultado disso. Por certo o estilo geométrico, com seus motivos simples e convencionais, não requer nada que se parece com o rigoroso e completo treinamento exigido pelo estilo naturalista; por outro lado, porém, o diletantismo que aquele possibilita contribuiu, provavelmente, para a simplificação das formas artísticas. 

Trecho de História social da arte e da literatura 

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