domingo, 20 de dezembro de 2020

Ernest Hemingway

 





Colinas como elefantes brancos 


[...]


A brisa quente sacudiu a cortina de bambu por sobre a mesa. 

- A cerveja é boa e está bem gelada - comentou o homem. 

- Está ótima! - Concordou a garota. 

- Será muito simples essa operação, Jig. Nem chega a ser uma operação para valer - disse ele.  

A moça olhou para o chão onde a mesa pousava. 

- Estou certo de que não se preocupa com ela, Jig. É mesmo uma coisa à toa para que o ar possa entrar melhor. 

Ela continuou em silêncio. 

- Vou com você e fico o tempo todo junto com você. Eles apenas vão deixar que o ar entre, e depois tudo volta ao normal. 

-Depois, o que faremos? 

- Depois disso, tudo ficará bem. Do jeito que éramos antes. 

- Por que é que você diz isso? 

- Porque é a única coisa que nos incomoda. A única coisa que nos deixa infelizes. 

A garota examinou distraidamente a cortina e apanhou duas fileiras de contas. 

- Acha mesmo que tudo correrá bem e seremos felizes então? 

- Sim, certeza que seremos! Não há o que temer. Conheço um bocado de gente que já fez operações como essa. 

- Eu também conheço - admitiu a moça.  - E sei que ficaram muito felizes depois. 

- Bem - ponderou o homem o homem -, você não está obrigada a fazê-la. Caso não queira, não se fala mais nisso. Mas que é uma moleza, garanto que é. 

- E você quer mesmo que eu a faça, não é?

- Acho que é a melhor coisa a fazer, Mas só quero que faca se isso for de seu desejo. 

- E, se eu a fizer, você ficará feliz, as coisas voltarão a ser o que eram, e você me amará de novo? 

- Eu a amo agora, como é. Bem sabe que sempre a amei.


[...]


- Poderíamos ter tudo isto - falou ela. - Não há o que não possamos ter, embora o tornemos impossível a cada novo dia... 

- O que é que está dizendo? 

- Disse que poderíamos ter todas as coisas...

- E poderemos tê-las!

- Não, não poderemos. 

- Teremos todo mundo ao nosso alcance!

- Não, não teremos. 

- Não haverá lugar algum aonde não possamos ir!

- Não, não poderemos. O mundo já não nos pertence mais.

- Você está enganada! Ele é nosso!

- Já não é! E, depois que o tiraram de nós, jamais o devolverão. 


[...]


   - Claro! Mas gostaria que você compreendesse...

- Estou compreendendo - atalhou a moça. - Será que não poderíamos parar com esta conversa? 

Sentou-se novamente à mesa e passou a examinar o horizonte, limitado pleas  colinas de um lado e pelo vale seco do outro. O homem olhava ora para ela, ora para a mesa. 

- Quero mais uma vez que você compreenda não estar de modo algum obrigada a fazer o que não quiser. Estou disposto a topar o que der e vier se isso é realmente importante para você. 

- E para você, não é? Poderíamos nos entender muito bem assim mesmo...

- Claro que poderíamos! Você é a única pessoa a quem realmente quero. Mas que a coisa é simplíssima, bem sei que é. 

- Sim, você é quem sabe. 

- Pode brincar com as palavras, mas sei mesmo que é. 

- Você seria capaz de fazer algo por mim neste intestate? 

- Faço qualquer coisa por você!

- Então, por favor, cale essa boca!

  

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